Júlio César Leal
Filho de Ezequiel Leal e de D. Alexandrina Leal, nasceu na Bahia em 6 de Fevereiro de 1837, desencarnando no Rio de Janeiro, em 22 de Novembro de 1897, vítima de uma febre palustre que contraíra na cidade de Macaé, onde exercia o cargo de inspetor da Alfândega. Distinto e zeloso funcionário dessa repartição da Fazenda, servira em diversos Estados do Brasil e participara de diferentes Comissões.
Jornalista, poeta, romancista, teatrólogo e polemista vigoroso, foi um dos mais antigos pioneiros do Espiritismo em nosso País. Como espírita, foi, de fato, um dos primeiros no território brasileiro, e sua conversão se dera na capital baiana. Estavam, ele e mais quatro amigos, reunidos numa sala de certa Loja Maçônica de Salvador, quando a conversa em que se entretinham se desviou para o Espiritismo. As obras de Allan Kardec, em francês, começavam a aparecer naquela «leal e valorosa » cidade, já dando o que falar nos meios mais cultos. Em dado momento, o referido grupo resolveu fazer uma experiência: colocariam papel e lápis dentro de uma manga de vidro que se achava sobre uma mesa, no quarto fronteiro à sala onde conversavam. Depois fechariam a porta do referido quarto e, concentrados, pediriam o auxílio dos bons Espíritos, para que um deles lhes fornecesse a prova de uma vida pós-morte. Assim fizeram. Passados quinze minutos, ouviram bater na porta pelo lado de dentro: abriram-na e, estupefatos, acharam uma mensagem escrita e assinada. Esse fato bastou para conduzi-los ao estudo do Espiritismo, e eis que Júlio César Leal se torna, em pouco tempo, propagandista entusiasta da Doutrina Espírita, logo surgindo nele a mediunidade de incorporação: em estado sonambúlico, transmitia, oralmente, belas e esclarecedoras mensagens de elevados Espíritos. Em 1869, ele lançava a público, em Penedo (Alagoas), a primeira obra em versos para a difusão da Doutrina Espírita no Brasil. Intitulava-se: «O Espiritismo - Meditações Poéticas sobre o Mundo Invisível, acompanhadas de uma evocação», com prefácio datado de 18 de Novembro de 1869. Júlio César Leal formou-se em Direito e foi professor de humanidades, não sabemos onde e nem por quanto tempo. Bastante respeitado pela sua cultura e erudição, deixou em várias cidades brasileiras, a elas levado por suas funções de inspetor alfandegário, um nome benquisto e preciosa colaboração intelectual, pois que fora escritor de grande inspiração e orador de largos voos. A sua palavra era fácil e por vezes eloquente, utilizando sempre esses dotes para melhor servir a Doutrina Espírita. Dedicou-se ao jornalismo com alto espírito público, e é assim que redigiu o «Jornal de Penedo», do qual foi fundador em 1871, o «Jornal das Alagoas», órgão político e noticioso de Maceió, o «Jornal do Comércio» e a «Gazeta de Notícias», ambos de Porto Alegre, o «Jornal do Povo», da Bahia, etc. Dramaturgo ilustre, escreveu oito peças dramáticas, e como que previu -segundo declara Pedro Calmon em sua «História da Literatura Baiana» -a guerra dos Canudos no seu drama «Antônio Maciel, o Conselheiro» (1858). Tornou-se membro do Conservatório Dramático da Bahia, instalado na cidade de Salvador, em 1857, pelo Dr. Agrário de Souza Menezes. De passagem pelo Rio de Janeiro, em 1881, a Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade inscreveu-o em seu quadro social e ele pronunciou nos dias 12 e 19 de Abril, na Escola Pública da Glória, duas conferências sobre o tema «O Materialismo e o Espiritismo». A imprensa leiga deu notícia desenvolvida a respeito dessas conferências, aplaudindo as ideias manifestadas pelo eloquente orador. Em 6 de Julho de 1881, fundou, na cidade do Recife, o semanário espírita «A Cruz», o primeiro órgão do Espiritismo em Pernambuco. Era um jornal de quatro páginas, impresso pela Tip. Universal, na rua do Imperador, n” 50. Infelizmente, curta foi a sua duração, diante dos intransponíveis obstáculos que se lhe depararam. Residindo no Rio de Janeiro, Júlio César Leal pertenceu à Assistência aos Necessitados da Federação Espírita Brasileira, que então funcionava à rua da Alfândega n" 342, 2° andar, ali desenvolvendo, junto a outros abnegados companheiros, amplos serviços de socorro a enfermos do corpo e da alma. Nos primeiros sete meses de 1895, presidiu a Federação Espírita Brasileira, num período de grave crise interna que só conseguiu ser ultrapassado quando, com a renúncia dele (J. C. Leal), o Dr. Bezerra de Menezes assumia, a 3 de Agosto de 1895, a direção da referida Casa. Bezerra procurou, desde logo, congregar as forças dispersas, frisando a necessidade de um movimento espírita organizado, com unidade de direção, e demonstrando, ainda, que a Federação preenchia todas as condições para ser o centro da união dos espíritas brasileiros. Quanto a Júlio César Leal, não terminou ele, naquela Casa, a sua missão, incansável trabalhador que era. Continuou a contribuir com o melhor de seus esforços para que a obra de propaganda prosseguisse ativa e incessante, lançando à publicidade novos livros e pronunciando conferências espíritas em várias Sociedades. Tornou-se um dos diretores efetivos do «Centro da União Espírita de Propaganda no Brasil», reinstalado, em nova fase, em 1894, aí trabalhando ao lado de Bezerra de Menezes, Augusto Elias da Silva, Ernesto dos Santos Silva, Pinheiro Guedes e outros espíritas de projeção. Esse Centro, cujas reuniões a princípio se realizaram dentro da própria Casa de Ismael, e do qual Bezerra de Menezes se afastaria em 1896, entrou em franca decadência no último trimestre de 1897, por falir em seus principais objetivos, levando outros diretores, inclusive os mencionados, a se desligarem dele. Júlio César Leal foi orador de conferências públicas na Federação Espírita Brasileira, colaborando, às vezes, no «Reformador», onde começou a publicar, como fervoroso adepto da Homeopatia, um trabalho intitulado «Electro-homeopatia, suas vantagens sobre os demais sistemas de tratamento médico». A desencarnação de Júlio César Leal impediu-o de terminar esse curioso sistema, preconizado na Europa pelo Conde Mattei, de nacionalidade italiana.
Entre as obras espíritas por ele escritas, destacam -se, além da que já foi aqui mencionada, as seguintes, algumas com várias reedições: «Compêndio de Filosofia Moral», Maceió, 1872; «Evangelho dos Espíritos. Religião Universal, fundada na verdadeira interpretação e explicação das doutrinas de Jesus-Cristo e seus apóstolos», por J. C. Leal e José Ricardo Coelho Júnior, Recife, 1881; «A Casa de Deus», romance instrutivo, precedido de páginas científicas, Rio, 1894; «Padre, Médico e Juiz», Rio, 1896; «Os Loucos», romance. São estas as peças de teatro que produziu, algumas levadas à cena: «Antônio Maciel, o Conselheiro», drama em 4 atos, Bahia, 1858; «O crime punido por si mesmo», drama em 4 atos, Bahia, 1859; «Luísa e Marçal», drama em 2 atos, Paranaguá, 1861; «Os episódios de um noivado», drama original brasileiro em 4 atos, Rio, 1862; «A mulher entre dois fogos», drama em 4 atos, Maceió, 1872; «A escrava Isaura», drama em 4 atos, Porto Alegre, 1883; «Mateus e Garcia», drama; «Última República Americana», drama, Rio, 1890.
Entre os romances, afora os já citados, temos: «Cenas da escravidão», Penedo, 1872; «Amor com amor se paga», Recife, 1879; «Casamento e Mortalha», Pernambuco, 1884; «Mortalha de Alzira», romance muito popular. Das obras em geral, podemos alinhar algumas de autoria de Júlio César Leal: '«Noticias de Paranaguá», na Revista Popular, tomo 13°, 1862; «Cartas políticas ao Exmo. Senador Jacinto Paes de Mendonça», Maceió, 1873; «A Maçonaria e a Igreja», conferência pública no edifício da Sociedade «Perfeita Amizade Alagoana », Maceió, 1873; «Livro de Poesias», S. Paulo, 1874; «Apontamentos para a boa administração das Alfândegas do Império e o uso do comércio», Pernambuco, 1878; «Biografia do General de Divisão José de Almeida Barrete», Rio, 1891; etc.
O Dr. Júlio César Leal pregou desassombradamente o Espiritismo até o fim de sua existência. E defendeu-o numa época em que os adeptos precisavam ter elevado espírito de desprendimento e verdadeira coragem, sendo por tudo isso digno da posição de relevo que ocupa no movimento espiritista nacional.
Fonte: Grandes espíritas do Brasil
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