Ivon Costa

Nascido na cidade de São Manuel-MG, hoje Eugenópolis, no dia 15 de julho de 1898 e desencarnado em Porto Alegre -RS, no dia 9 de janeiro de 1934, com apenas 35 anos de idade, Ivon Costa foi um dos mais notáveis conferencistas espíritas do Brasil, contribuindo decisivamente com sua palavra abalizada e esclarecedora no sentido de dinamizar a difusão da Doutrina Espírita, o que fez com fibra inquebrantável e verdadeiro denodo.

Dotado de invejável dom de oratória e possuindo um magnetismo contagiante e uma voz privilegiada, arrebatava os auditórios com a força de sua argumentação. Foi seminarista, mas, quando faltavam apenas dezenove dias para a sua ordenação sacerdotal, constatou-se que ele não possuía certidão de batismo. Em face da confusão estabelecida, Ivon desistiu de seguir a carreira eclesiástica. Dirigiu-se, então, para o Rio de Janeiro, onde estudou e se diplomou em Medicina pela Escola Nacional de Medicina do Rio de Janeiro, tornou-se espírita após a desencarnação do pai. Depois do desencarne do seu pai, atravessou uma fase difícil em sua vida. Um dia, viu-se defronte de um centro espírita, onde se realizava uma reunião pública. Movido por estranho impulso, adentrou a sede da instituição, e ao ouvir a palestra algo mexeu no seu interior. Foi ali que ouviu pela primeira vez comentários sobre as obras de Allan Kardec. O fato lhe pareceu que fazia, então, uma recordação de leituras feitas sorrateiramente, quando jovem, das obras de Allan Kardec, que seu pai trazia escondidas, devido à perseguição religiosa. Vê-se a importância de uma reunião bem dirigida com assuntos doutrinários, pois, ao sair dali, encontrara enfim as repostas procuradas às questões que o incomodavam e todas as suas indagações. Ao retirar-se, estava transformado. Tornou-se espírita e iniciou logo as tarefas de pregador. Concluiu então: “Esta será a minha Doutrina, a qual divulgarei por toda parte”.

Imaginar o trabalho do Dr. Ivon Costa numa época de grandes perseguições e preconceitos religiosos, além das dificuldades de transporte no País, faz-nos admirar mais ainda a sua perseverança na missão de pregar nossa amada Doutrina.

Notável poliglota e falando perfeitamente o francês, o inglês, o alemão e o espanhol, tempos depois já se encontrava pregando nas cidades do interior e nas principais capitais do Brasil e diversos países da Europa, conforme comprovam documentos da época, e sempre com o mesmo afã e alegria cristã, na difusão da verdade.

Fatos marcantes não faltaram à sua vida de pregador. Certa vez, em Maceió, alugara um cinema para proferir a palestra. Qual não foi a sua surpresa quando, ao chegar, encontrou o cinema fechado e o proprietário aflito a lhe devolver a importância paga, já que, por ordem do bispo, não poderia realizar a transação. O público presente levou-o então para a praça principal, onde havia uma igreja com escadaria, e lá, realizou a palestra sob pedradas e com os sinos tocando, a mando do infeliz bispo. Sua voz, porém, era portentosa (os portugueses chamavam-no de “o trovão brasileiro”) e mesmo em condições tão adversas pregou até o fim. Anos depois, em uma reunião mediúnica, da qual participava Conrado Ferrari, um dos idealizadores do hospital Espírita de Porto Alegre, ao esclarecer os irmãos comunicantes, uma das entidades se dirige ao Ivon Costa dizendo que parecia mentira que estava sendo atendido por quem mandara apedrejar em vida: era o bispo de Alagoas.

Era um tribuno extraordinário, de largos recursos de lógica. Sabia abordar os temas com eloquência e brilho. Aceitava, frequentemente discussões públicas, tendo mantido algumas cuja palma não coube ao adversário. Percorreu também países da Europa, dentre eles Portugal, Espanha, França, Holanda, Bélgica e Luxemburgo.

Ivon Costa falava muitas vezes mediunizado, recebendo assistência de seu guia espiritual Leão Tolstoi. Relembrava sua esposa, Honorina Kauer Costa, residente em Porto Alegre, que algumas palestras eram mais brilhantes que outras e as pessoas o aplaudiam incessantemente. Certa vez, após proferir uma belíssima palestra, onde fora muito cumprimentado, ela abraçou-o felicitando-o e ele lhe disse: “Nunca te envaideças, quando falo normalmente, sou eu, quando falo bem, são eles”. Isto demonstra o quanto ele tinha consciência de sua mediunidade e da humildade que deve acompanhar todo aquele que realmente deseja servir a Jesus. Em Portugal, onde residiu por dois anos, recebia a assistência direta do Espírito João de Deus, que o orientava psicograficamente em versos ou prosa quanto à tarefa a realizar.  D. Honorina contava que o empenho em cumprir seus compromissos era tal, que mesmo no dia do casamento, realizado somente no civil, após o mesmo, ele se dirigiu à cadeia pública de Porto Alegre, onde costumava pregar para os presos. Até na sua desencarnação ocorreu um fato interessante. Tendo sofrido um acidente vascular-cerebral, estando em coma, eis que chega à sua casa um padre para dar-lhe a extrema unção. Percebendo-o a esposa pede-lhe que se retire, uma vez que sendo Ivon Costa espírita, dispensava os sacramentos in extremis. Se esta atitude não tivesse sido tomada, poderia passar à comunidade que no momento final o Dr. Ivon Costa havia se convertido ao catolicismo, religião que professara na juventude, chegando mesmo a ser seminarista. Residindo na Europa, proferiu conferências em Portugal, Espanha, Holanda, Bélgica, Luxemburgo, Alemanha, e em França, onde falou na Sociedade Espírita de Paris. Participou do Congresso Internacional de Espiritismo em Haia, na Holanda, em 1931.

Retornando ao Brasil em 1932, fixou residência em Porto Alegre, onde até o seu desencarne sua esposa e sua filha Dra. Céo Kauer Costa continuaram na mesma residência.

Médico, clinicava gratuitamente, e ainda providenciava dinheiro para a clientela adquirir os medicamentos. Fundou em Porto Alegre a Sociedade Espírita “Caminheiros do Bem”, na Rua D. Tereza, 125, onde pregava e mantinha intenso trabalho assistencial. Publicou o livro “O Novo Clero”, onde analisava criticamente o Catolicismo.

Podemos afirmar que Ivon Costa foi o primeiro espírita que mais excursionou no propósito de propagar os ideais reencarnacionistas, sendo a sua tarefa muito semelhante àquela desempenhada pelos grandes tribunos Vianna de Carvalho e Divaldo Franco. Da sua obra missionária resultou a fundação de elevado número de sociedades espíritas em todo o Brasil.

Desencarnou no dia 9 de janeiro de 1934 em Porto Alegre, aos 35 anos de idade, este verdadeiro desbravador que sem temor abriu caminhos à divulgação da Doutrina Espírita, dedicando sua breve vida terrena ao bom combate, vencendo preconceitos e perseguições, levantando bem alto a bandeira do Espiritismo, a Doutrina libertadora de nossas consciências. Em sua homenagem devido à sua atuação no campo doutrinário, existem em nosso país Casas Espíritas que levam o seu nome. Podemos citar as cidades de Belém (PA), Juiz de Fora (MG), Santa Maria, São Leopoldo e Esteio, no Rio Grande do Sul. Divaldo tem recebido mensagens do Espírito Ivon Costa, transcritas em diversos livros, e declarou, certa vez, que em suas palestras costuma receber a assistência desse valoroso Espírito.



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