Hábito das conjecturas saudáveis - Rogério Coelho

O Espiritismo prova que a alma reage incessantemente sobre o corpo físico

“Pensa bem e estarás edificando a harmonia perfeita de que desfrutarás no futuro.” - Joanna de Ângelis[1]

O processo saúde-doença no ser humano está vinculado à interação mente-corpo; portanto, não é sem motivo que a sabedoria ancestral já vaticinava: “mens sana, corpore sano”.

Ao seu tempo Sócrates já revelava: “se os médicos são malsucedidos, tratando a mor parte das doenças, é que tratam do corpo, sem tratarem da alma. Ora, não se achando o todo em bom estado, impossível é que uma parte dele passe bem”.

A esse pensamento socrático, Kardec[2] aduz: “(...) o Espiritismo fornece a chave das relações existentes entre a alma e o corpo e prova que um reage incessantemente sobre o outro. Abre, assim, nova senda para a Ciência. Com o lhe mostrar a verdadeira causa de certas afecções, faculta-lhe os meios de combatê-las. Quando a Ciência levar em conta a ação do elemento espiritual na economia, menos frequentes serão os seus maus êxitos.”

Ensina Joanna de Ângelis[3]: “(...) a irradiação psíquica da energia equilibrada, que vibre em consonância com as necessidades dos sensores nervosos, conduzirá vibrações harmônicas que manterão a interação mente-corpo em perfeita ordem. Como decorrência dessa conduta, haverá um fluxo de alegria em forma de corrente vibratória que percorrerá o corpo em todas as direções, alcançando os setores mais delicados da organização física, assim como os tecidos sutis do equipamento perispiritual, que insculpirão na forma física os conteúdos absorvidos.

O oposto, mesmo que inconsciente, é fenômeno habitual na conduta dos pacientes em desequilíbrio, gerando perturbações psicossomáticas graças às ideações perniciosas pela sua qualidade inferior, detendo-se no primarismo das paixões agressivas, alterando o comportamento e a comunicação dos sentimentos e fixação dos pensamentos mórbidos”.

Agora ficou mais fácil compreender o significado da frase messiânica[4]: “a cada um será dado de acordo com as suas obras”, e de acordo com os seus pensamentos, (podemos acrescentar).

Ensinando-nos a organizar um projeto de vida feliz e harmoniosa, com saúde fisiopsíquica impecável, a nobre mentora Joanna de Ângelis leciona[5]: (...) pensar de maneira salutar é compromisso valioso para gerar otimismo e paz, iniciando o programa das ações corretas que dão nascimento aos hábitos respon­sáveis pela segunda natureza do ser, isto é, uma outra natureza interpenetrada na própria natureza.

Tudo quanto se tenha de fazer, pensar antes deline­ando um programa cuidadoso, no qual o improviso, não tenha lugar, nem tampouco o arrependimento tardio. Quem se equipa de cuidados erra menos. Quem es­tabelece roteiros, e segue-os, acerta mais. Eis um deles: cultivar a confiança e a alegria no trato com os de­mais membros da sociedade - iniciando no lar - embo­ra as defecções morais e os embates traiçoeiros do mo­mento, a que todos estão sujeitos; irradiar simpatia e esperança, produzindo uma aura de paz que alenta e agrada a todos; usar a conversação como elemento catalisador de novas ideias de enobrecimento e de ventura, que esti­mulam a criatividade, a coragem, a perseverança no bem; banir, quanto possível, do comportamento, a crítica ácida e destrutiva, os conceitos chulos quão irresponsá­veis, as diatribes e os verbetes sarcásticos, que enve­nenam o coração e enfermam a alma, transferindo-se pelos condutos do perispírito para o corpo, em delica­das como complexas patologias orgânicas... Respeitar e, ao mesmo tempo, conduzir o corpo com moderação em quaisquer eventos, poupando-o aos cos­tumes promíscuos, bem como aos relacionamentos se­xuais e afetivos perturbadores, ora muito em voga; manter os requisitos da higiene, superando os im­perativos da preguiça mental e física, assim criando e preservando os hábitos sadios; recorrer à oração, qual sedento no rumo da Fonte Vitalizadora, sustentando o Espírito e refrigerando-se na paz; meditar em silêncio, a fim de absorver a resposta divina e capacitar-se dos conteúdos da inspiração para alcançar as metas essenciais da existência; preservar a paz, mesmo que a alto preço, estimulando-a em todos quantos o cerquem”.

Explicando-nos os meandros nos quais percorrem as vibrações sadias ou deletérias em nossa intimidade, a Nobre Mentora1 fala sobre a íntima interação mente-corpo: “(...) as pessoas extrovertidas, autoconfiantes e sensatas, apresentam menor índice de enfermidades do que aquelas introvertidas, desconfiadas, instáveis emocionalmente. Nas primeiras, a produção de imunoglobulina auxilia a estabilidade do aparelho imunológico, enquanto que as outras, produzindo a mesma substância em menor escala, ficam mais susceptíveis às infecções, particularmente as de natureza respiratória...

Desse modo, aqueles indivíduos que cultivam as boas ideias, que se esforçam por condutas equilibradas sem coarctações perturbadoras nem castrações afligentes, que amam e exercitam a paciência, a solidariedade e a compaixão, gozam de mais saúde e bem-estar do que os egoístas, os pessimistas, os irresolutos... Sendo a mente uma emanação do Espírito, dele procedem os impositivos necessários à evolução, tendo em vista a anterioridade das experiências vivenciadas em existências passadas.

Os impositivos de natureza perturbadora, frutos de cul­pas e de conflitos acumulados, de ansiedades e invejas, de atribulação e competitividade perniciosa, interferem no campo vibratório das células, desarticulando-lhes a harmonia. Enquanto que, os que expressam esperança e ternura, resignação e coragem, confiança e renovação interior, estimulam os mesmos núcleos, produzindo harmonia e ampliando as resistências em relação a invasões microbianas, às agressões mentais externas e às influenciações espirituais enfermiças. Nesse sentido, expressam-se como de alta valia os contributos da oração, da meditação, da generosidade, do cultivo dos bons e relevantes pensamentos, que estimulam a harmonia.

Modernas pesquisas médicas em várias especiali­dades confirmam os resultados de tais comportamen­tos, quando constatam os excelentes resultados nos prontuários de pacientes que oram e que são benefi­ciados pelas preces que lhes são dirigidas, que cultivam a confiança em Deus e no seu médico, que cooperam com as terapias a que são submetidos, que não recla­mam da enfermidade, considerando-a como fenômeno natural do organismo. De igual maneira, os recalcitrantes e revoltados, destituídos de fé religiosa e sempre desconfiados de tudo e de todos, nada obstante os cuidadosos trata­mentos a que são submetidos, têm sempre piorado o seu estado, chegando a situações irreversíveis, quando não surpreendidos pela morte em estado de desarvoramento emocional.

 As modernas visualizações terapêuticas, - (continua ensinando Joanna de Ângelis)1, mediante as quais os indivíduos podem proje­tar suas aspirações em torno da saúde em relação ao futuro, proporcionam resultados muito positivos, por ensejarem a renovação das paisagens mentais, que se libertam dos clichês negativos e perturbadores, tendo-os substituídos por outros de natureza edificante.

Os atavismos ancestrais defluentes do trânsito evo­lutivo imprimiram no ser pensamentos desordenados, frutos da agressividade e da violência, tornando-se relativamente difíceis de vencidos.  Em realidade, a tarefa não é tão complicada, bastando que, a todo pensamento perturbador se contraponha um de natureza dignificante.  Como não se podem eliminar pensamentos que procedem de fontes remotas do ser, é possível substituí-los por outros que se irão fixando até tornar-se natural o hábito das conjecturas saudáveis... Nesse campo, nada é impossível, exigindo-se apenas que sejam criados novos hábitos mentais, que se realizem exercícios ideológicos, de forma a resultarem edificantes e propiciadores de tranquilidade.”

 


[1] - FRANCO, Divaldo. Jesus e vida. Salvador: LEAL, 2007, p. 93-97.

[2] - KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o Espiritismo.121.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2003, introdução, tomo XIX.

[3] - FRANCO, Divaldo. O Despertar do Espírito. 5.ed.Salvador: LEAL, 2003, p. 103.

[4] - BÍBLIA, N.T.Mateus. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1983. cap. 16. vers. 27.               

[5] - FRANCO, Divaldo. Autodescobrimento: uma busca interior, 7.ed.Salvador: LEAL, 2000, p. 79-81.



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