Fé: virtude mística ou força atrativa? - Rogério Coelho
A fé enseja a lucidez que permite a visão da meta que se quer alcançar e os meios de chegar lá
“A verdadeira fé se conjuga à humildade; aquele que a possui, deposita mais confiança em Deus do que em si próprio, por saber que, simples instrumento da vontade divina, nada pode sem Deus.” - Allan Kardec.
Segundo os registros Neotestamentários de Mateus, após curar a cegueira de Bartimeu, em Jericó, Jesus lhe disse: “vai, a tua fé te salvou”. (Mt., 10:52.)
Essa mesma frase Ele a repetiria em vários episódios, mormente antes ou logo após a realização de curas, como por exemplo, no caso dos dez leprosos, quando apenas um voltou para agradecer-Lhe (Lc., 17:19.); da mulher que sofrera u`a hemorragia durante doze anos que tocou Suas vestes (Mc., 5:34.); de Maria de Magdala em casa de Simão, (Lc., 7:50.), etc... Assim, abstraindo a atuação de Jesus, fica realçada a força da fé como elemento básico para elidir enfermidades.
A maioria das religiões descreve a fé tão somente como uma virtude teologal, apartada da razão, cega, portanto, mística... Já o Espiritismo nos mostra a fé como uma força atrativa de benesses e inteiramente racional. Somente a fé raciocinada possui arsenal abastecido para o combate à incredulidade, daí asseverar Allan Kardec que “inabalável, só o é a fé que pode olhar de frente a razão, em todas as épocas da humanidade”.
Com o advento do conhecimento mais acessível a todos, as quimeras antes apresentadas como inamovíveis dogmas doutrinários ruíram, uma vez que aí se localizava a gênese da incredulidade.
Jesus foi, é, e sempre será o Vexilário Maior da Fé Raciocinada de quem Allan Kardec é discípulo fiel. Com Eles aprendemos quão dinâmica e eficiente é a fé. Os episódios narrados no Evangelho dão-nos larga mostra disso...
A fé, portanto, conforme o demonstra o Espiritismo é uma força atrativa de alto poder em nossas vidas. O doente possuidor de uma fé operante atrai, pelo desejo ardente, pela confiança, os fluidos benéficos e salutares que lhe são dirigidos.
Quando Jesus falava: “tua fé te curou”, é porque Ele não ignorava que o doente tornava-se uma espécie de “esponja”, isto é uma bomba aspirante dos recursos que Ele lhe canalizava. Quem não possui fé dinâmica e racional, visitado pela incredulidade, torna-se refratário aos recursos que lhe são alocados.
Noutra acepção, entendemos, com Kardec, como fé, a confiança que se tem na realização de uma coisa, a certeza de atingir determinado fim. Diz o Mestre Lionês: “ela (a fé) dá uma espécie de lucidez que permite se veja, em pensamento, a meta que se quer alcançar e os meios de chegar lá, de sorte que aquele que a possui caminha, por assim dizer, com absoluta segurança. A fé sincera e verdadeira é sempre calma; faculta a paciência que sabe esperar, porque, tendo seu ponto de apoio na inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de chegar ao objetivo visado. A fé precisa de uma base, base que é o perfeito conhecimento daquilo em que se pode crer”.
Jesus, ao Seu tempo já proclamava: “tudo é possível àquele que crê.” (Mc., 9:23).
Frente às graves conjunturas da existência planetária, sob a constrição de qualquer enfermidade, ou sofrendo transes afetivos sem nome e sem esperança, não peçamos soluções apressadas à vida, nem nos deixemos tombar no fundo e escuro poço da desesperação e do desânimo!... Tenhamos paciência! Tudo passa...
Nos trâmites evolutivos, qualquer situação; toda circunstância boa ou má é transitória. Esperar e perseverar no sumo bem, ilimitadamente, é o único caminho de nossa recuperação do passado de sombras e o meio seguro de acender luzes da esperança nas trilhas do futuro. Assim, produzindo em nome do “amanhã”, evitemos as paisagens do passado.
Através da psicografia de Divaldo Pereira Franco, chega-nos o seguinte conselho de Joanna de Ângelis, alentando-nos, incentivando-nos: “não desfaleças, não retrocedas, porque as tuas aspirações sofrem a baba da injúria e as tuas expressões são entendidas como acicates que, no entanto, não esparzes.
Reverenciando Jesus, a Quem procuras atender e cujo amor te incendeia a Alma em pleno despertar, agradece todo empeço e azedume que te apareçam, perdoando sempre, porquanto, testemunhando a legitimidade dos teus propósitos, o perdão que ofertes é oportunidade para ti mesmo, como perdão de Nosso Pai na direção dos teus desejos”.
Nos momentos graves e aflitivos, quando tudo parece conspirar contra a nossa paz, lembremo-nos sempre das palavras de Jesus a Jairo, guardando-as em nosso coração como lenitivo e antídoto contra o desespero: “não te aflijas, crê apenas.” (Mc., 5:36).
Nosso arrimo em Jesus não pode sofrer falência, vez que Ele foi muito claro ao expressar-Se da seguinte forma, consolando-nos e fortalecendo nossa confiança: “vinde a mim todos que estai cansados e oprimidos e eu vos aliviarei”. (Mt., 11:28).
Com as novas luzes esparzidas pela Doutrina Espírita, que ao mesmo tempo ilumina e aquece a noite de nossas existências, compete-nos o dever de não perdermos o equilíbrio, a lucidez e a confiança durante as procelas de vário matiz, a fim de que não venhamos a nos transformar em discípulos medrosos e apavorados como os que acompanhavam Jesus durante a tempestade em plena travessia do lago, suscitando d`Ele a severa pergunta registrada por Lucas, no capítulo oito, versículo vinte e cinco: “onde está a vossa fé?”
Joanna de Ângelis profetiza: “quando menos esperarmos, descobriremos que as dores se foram, as lutas cessaram, mas, em paz de consciência estaremos livres das conjunturas carnais adejando além das situações dolorosas no rumo da plenitude da paz interior”.
Comentário