Eurícledes Formiga
José Eurícledes Formiga, nome literário Eurícledes Formiga, nasceu em São João do Rio do Peixe, Paraíba, em 19 de Junho de 1924, filho de José Ferreira de Sá e Ana Formiga Ferreira. Viveu sua infância enfrentando a penúria e o abandono do sertão nordestino, saindo de lá ainda jovem adolescente.
Jornalista profissional, ingressou na "Gazeta de Notícias", em Fortaleza, no ano de 1946. Redator da "Folha de São Paulo", colaborou em outros jornais paulistas como “A Gazeta", e Rádio "Gazeta", no programa "Enciclopédia no Ar", de Fernandes Soares, e na extinta TV Excelsior de São Paulo.
Em 1961, em Brasília, exerceu as funções de chefe do serviço de imprensa do presidente da Novacap, e redator da Agência Nacional.
Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Guarulhos, em 1973. De sua lavra editou as obras: "Baladas da Minha Vida" - 1949, "Vitral da Madrugada" - 1952, "O Cavaleiro do Mar" - 1955, "As Rosas Estão Abertas" - 1968, "Canto do Semeador" - 1972 e "Chão de Oferta" - 1978.
Criou e dirigiu por dois anos o grupo de pesquisas e estudos folclóricos do Instituto Central de Letras da Universidade de Brasília. Exerceu cargos na Justiça Federal de São Paulo, até aposentar-se como Diretor Administrativo, em São Paulo.
Poeta repentista e declamador, executou excursões por todos os estados do Brasil. Foi considerado uma das primeiras memórias do país, citado entre as quatro maiores memórias do mundo em matéria na "Revista Realidade", em 1972. Também publicou os seguintes livros psicografados: "Luz na madrugada", "Notícias do Além”, "Mais Vida". Com Chico Xavier: "Olá Amigos, "Motoqueiros no Além"
Quando publicou "As Rosas Estão Abertas" escreveu sobre ele o ilustre e saudoso poeta Cleômenes Campos: “Esta poesia, clara e espontânea, ágil e musical, brota de um coração irrequieto, trefegamente deslumbrado com o espetáculo do Mundo. Coração lírico e ingênuo, búzio sensível e harmonioso, onde ressoa, de contínuo, com aparatos de festa, o encantamento da infância. Coração errante e simples, de inconsequente marujo, fascinado por todas as ilhas, sobretudo aquelas que não existem".
Também sobre o autor de "As Rosas Estão Abertas", escreveu Fernandes Soares: "Há em toda a sua poesia mar e amor, paz e saudade, ternura e vida, esperança e alegria. O otimismo é o lábaro de seus poemas. Eurícledes Formiga faz de cada poema a marca de suas descobertas pelas praias do sonho. E de búzio ao ouvido, através dos dias, vai escutando a sinfonia do mar, horizonte verde da terra, visão azul da eternidade".
Na Seara Espírita, Eurícledes Formiga exercia suas atividades junto ao "Centro Espírita Perseverança" do qual era Diretor. Casou-se com Annabel Maria Almeida Ferreira, sua companheira e sua musa amada. Teve três filhos: Miguel Vinícius Almeida Ferreira, Marcus Vinícius de Almeida Ferreira (Quito) e Maria de Fátima Almeida Ferreira (Fafá). Sua família até hoje trabalha no "Centro Espírita Perseverança".
Eurícledes Formiga foi um médium singular. Viveu sua infância em uma pequena cidade da Paraíba, pobre, quase sem recursos. Desde os dez anos, declamava "Navio Negreiro", de Castro Alves, de memória. Sua prodigiosa memória, talento poético e inteligência lhe valeram, na juventude, contatos preciosos com artistas, poetas nordestinos, repentistas e boêmios. O caminho da infância simples de menino pobre, até se tornar o intelectual, escritor e poeta, pesquisador do folclore brasileiro, espírita, médium e funcionário do poder judiciário não foi fácil. Sua biografia relata de forma sintética esse percurso.
Era capaz de se apropriar do conteúdo de qualquer livro em alguns minutos. Repetia discursos longos de trás para frente. Era capaz de localizar trechos de páginas de livros, identificando parágrafos, repetindo textualmente do modo como estava escrito, de trás para frente, ou respondendo a desafios do tipo: a décima primeira palavra da página tal. Se isso tinha a ver com sua mediunidade, não se pode afirmar. Era mesmo um dom. E quando algum poeta novato lhe apresentava uma produção inédita, feliz com os resultados, Formiga logo dizia: "é plágio, quer ver?". E repetia todo o trabalho do sujeito de todas as formas possíveis. Neste momento, o novato, perplexo, reafirmava sua autoria. Então, Formiga logo revelava: "brincadeira, está ótimo seu trabalho".
A mediunidade despertou de modo ostensivo quando Formiga já era adulto, casado, com a vida estabilizada. Inconsciente nos momentos de transe mediúnico, ao retomar a consciência não acreditava no que havia dito. Achava que as pessoas estavam criando coisas, pois para ele não havia nenhum registro mnemônico do ocorrido. Começou então uma luta entre o seu lado intelectual e as manifestações espirituais, por ele racionalmente consideradas absurdas. Frequentemente caía nas ruas, as manifestações aconteciam em qualquer lugar. Sua esposa insistia para que procurasse ajuda em centros espíritas. As entidades, especialmente Frei Martinho, seu mentor, deixavam recados utilizando a mediunidade de Formiga a ele mesmo endereçados, descrevendo situações, nomes e outros detalhes. Nada era suficiente para que ele acreditasse. Porém...
Após muita luta, procurou o médium Divaldo Pereira Franco, que logo lhe confirmou "o padre [referindo-se a Frei Martinho] é de verdade". Por fim, foi com a esposa até Uberaba. Então, Chico Xavier, que não o conhecia pessoalmente, o chamou entre todos os que estavam na fila: "Formiguinha de luz, há tanto tempo te esperava". Então, encaminhou-o ao trabalho espiritual. Finalmente dava início à sua profícua tarefa mediúnica. Trabalhou durante dez anos consolando pessoas que perderam os entes queridos, no C.E. Perseverança, na capital paulista.
Era se ver sua dedicação e carinho com as mães desoladas pela perda de seus filhos. Sua mediunidade transparente lhe permitia identificar no meio do salão pessoas que acabavam de entrar, trazendo a elas boas notícias da espiritualidade, referentes aos seus parentes do lado de lá. Conversava com espíritos de modo espontâneo e natural como se conversa com "vivos". Centenas de cartas psicografadas nesses dez anos, com tantos detalhes, particularidades e ensinamentos, eram lidas ao final das reuniões semanais.
Eurícledes Formiga desencarnou às 12h10 do dia 9 de maio de 1983, em São Paulo, vítima de choque cardiogênico.
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