Eduardo Carvalho Monteiro
Em 3 de novembro de 1950, por volta das 4h50, ainda sob a luz do luar, nasceu na cidade de São Paulo (SP) uma criança que recebeu o nome de Eduardo Carvalho Monteiro.
Filho de Ivan Carvalho Monteiro e de Denaide Carvalho Monteiro, ele advogado, que também trabalhou como bancário e ela, procuradora do Estado de São Paulo, foi o mais velho dentre quatro irmãos: Ricardo, Leonardo e Márcia. Seu interesse pelo Espiritismo surgiu desde a tenra idade. Iniciou-se no Espiritismo com 14 anos, quando furtivamente pegou “O Livro dos Espíritos” da estante de seu pai e o leu sofregamente, identificando-se então com seu conteúdo. Seus pais achavam que era muito cedo para estudar essas “coisas de espiritismo”, advindo, talvez, daí, mais curiosidade de sua parte. Sua primeira “sessão” ocorreu num terreiro de umbanda na casa da mãe de um amigo. Nessa época ainda não sabia distinguir entre kardecismo e umbanda, mas logo começou a frequentar centros kardecistas e se identificar mais com a doutrina espírita.
Formou-se em psicologia e também foi bacharel em Turismo. Fez especialização em Administração de Empresas, Administração Pública, Administração Hospitalar (Faculdades São Camilo) e Política e Estratégia (Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra). Afastou-se alguns anos da frequência aos Centros embalado pelas ilusões juvenis, mas se reencontrou com ela definitivamente aos 22 anos quando visitou Chico Xavier pela primeira vez em 1972. Passou então por um processo de amadurecimento espiritual, etário e psicológico que o levou a estudar profundamente a Doutrina Espírita, a Parapsicologia e as Ciências Herméticas em geral.
Como Psicólogo, foi grande pesquisador e escritor de coração, sua curiosidade sempre o levava a ter olhos de ver, onde poucos não enxergavam além de papéis velhos e amarelados. Farejava o novo, ansiava pelo desconhecido. E dessa singular formação profissional, foi servidor da Secretaria de Estado da Saúde, do Estado de São Paulo. Na ocasião, organizou e participou de diversos mutirões de saúde, destacando-se o “Mutirão da Catarata” e “Campanhas de vacinação contra a poliomielite”. Ainda quando na Secretaria de Saúde, seus olhares voltaram-se para os mais excluídos da sociedade: os pobres. Iniciou seu trabalho assistencial na cidade de Pirapitingui, junto às pessoas portadoras da hanseníase, pessoas que pela doença de que são portadoras ainda sofrem grande preconceito. E, como recebera em doação um imóvel no Bairro de Eldorado (cidade de Diadema/SP), foi em busca do médium Chico Xavier, com quem tinha estreito relacionamento, consultando-o a respeito de como seria a melhor utilização daquela dádiva, qual trabalho poderia ser desenvolvido naquele imóvel, recebendo a orientação de fundar uma Casa de Assistência a mães solteiras e um asilo para idosos. Foi assim que, juntamente com alguns companheiros espíritas, fundou e presidiu a Sociedade Espírita “Anália Franco”, entidade nascida com finalidade de prestar assistência espiritual e material a população carente, principalmente crianças, idosos e gestantes.
Eduardo atuou também como jornalista, escrevendo para colunas de diversos jornais espíritas, e participando mais ativamente, como ex-diretor e editor da revista A Verdade, de 1986 a 1996. Também pesquisou a história da Imprensa Espírita Nacional e Internacional, o que permitiu a criação de duas exposições com mais de 150 ilustrações contando a história dos periódicos espíritas nacionais e internacionais, com fotos de capas, assim como da exposição sobre “Os cem anos de Evangelho com Eurípedes Barsanulfo”, entre outras.
Ao todo publicou 40 livros, 30 apenas sobre a história do Espiritismo, muitos dos quais sobre biografias de vultos da doutrina, como Allan Kardec, Léon Denis, Batuíra, Anália Franco, Victor Hugo, Cairbar Schutel, Jésus Gonçalves e outros.
Foi articulista da Revista Internacional de Espiritismo, da Editora “O Clarim”, de Matão; do jornal Correio Fraterno do ABC de São Paulo; da revista Universo Espírita, dos jornais da Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP): O Semeador e Jornal Espírita, além de inúmeros outros periódicos do Brasil. Participou inúmeras vezes de programas da Rede Boa Nova de Rádio (da Fundação André Luiz), foi entrevistado por diversos programas de televisão, revistas e jornais. Foi um grande trabalhador na difusão da Doutrina Espírita, um pesquisador da memória do Espiritismo de Kardec aos nossos dias.
Eduardo era um pesquisador com ideias avançadas. O principal exemplo disso foi uma ideia inovadora dentro do Movimento Espírita, a criação de um fórum de troca de informações entre pesquisadores espíritas.
Com sua singular iniciativa, foi idealizador e fundador da LIHPE: Liga dos Historiadores e Pesquisadores Espíritas, que surgiu a partir do 1º Encontro Nacional de Pesquisadores Espíritas, em 17 de março de 2002, na cidade de Goiânia/MG. Trabalhou intensamente para o Congresso Internacional do Espiritismo, de 2004, realizando, inclusive, exposição de materiais raros sobre a difusão do Espiritismo no Brasil e no mundo. Seu amor pela doutrina levou-o a investir todos seus recursos financeiros em visitas a todas as bibliotecas e acervos de Paris e região, onde pudesse encontrar informações sobre as origens da história do Espiritismo. Sua atuação deixara marcas nos inúmeros congressos espíritas de que participara.
Foi assessor pró-memória da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo, assessoria instituída na gestão da presidência de Cesar Perri. Nos últimos anos, deu início à edição do Anuário Histórico Espírita, com o ideal de preservar a memória do Espiritismo no Brasil e no mundo e lançar novos autores, tanto acadêmicos, como tarefeiros do movimento espírita.
Eduardo também realizava palestras por todo o Brasil e acabava de retornar de uma série delas, no Rio Grande do Norte. Sua primeira obra como biógrafo espírita foi lançada em 1987, através da Editora Espírita Correio Fraterno. Com o título A extraordinária vida de Jésus Gonçalves, teve pronta aceitação dos leitores. Em menos de três meses, esgotaram-se os seis mil exemplares da primeira edição.
Solteiro, ele transformou sua casa num imenso acervo, com mais de 30 mil livros, coleções de periódicos raros, cerca de 100 mil documentos históricos. Preocupado com o seu acervo de mais de 25.000 documentos espíritas e espiritualistas que estavam guardados em precárias condições em sua residência, com sérios problemas de armazenamento, acabou por idealizar e fundar, juntamente com outros companheiros do movimento espírita, o CCDPE – Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo que, após o seu retorno ao mundo espiritual, recebeu seu nome, transformando-se em CCDPE-ECM: Centro de Cultura, Documentação e Pesquisa do Espiritismo – Eduardo Carvalho Monteiro.
Nessa manhã do dia 15 de dezembro de 2005, na capital de São Paulo, desencarnou o escritor Eduardo Carvalho de Monteiro, aos cinquenta e cinco anos de idade, vítima de coma diabético no Hospital Alvorada, onde ficara internado por 70 dias. Depois de 20 dias de UTI, retornou à enfermaria, quando revelou à Dra. Júlia Nezu que, no período em que esteve em coma, tivera uma experiência de quase morte e que os Amigos Espirituais o mandaram que regressasse ao corpo físico. Melhorou consideravelmente e, quando já se pensava obter alta, desencarnou devido a uma parada cardíaca.
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