Correntes da evolução - Guaraci Silveira

Para aqueles que ainda acreditam na morte devo dizer que existem surpresas quando estamos vivos e pensamos na morte e quando estamos mortos e pensamos na vida. Morte e vida. Opostos? Faces da mesma moeda? A moeda em si? Caminhando pelas praças e avenidas da Casa dos Sonhos sempre me deparava com antigos moradores do plano físico. Muitos desejavam contar suas histórias. Outros não. Queriam construir outras. Muito justo.

Luana aproximou-se de mim. Disse-me com alegria que recebera uma autorização para visitar alguém muito querido e que se encontrava encarnado.

– Quem é. Posso saber? Perguntei-lhe.

– Lucas. Respondeu-me com um sorriso maroto.

– E quem é ele?

– Menino. Apenas um menino.

– Seu? Perguntei-lhe.

– Ninguém pertence a ninguém.

– Seu amor?

– Tenho vergonha!

– Diga.

– Ele renasceu. Vamos nos encontrar. Daqui a pouco vou eu.

– Deus, vou ficar sem você?

Luana pegou minhas mãos e as beijou com imenso carinho e ternura e depois me disse:

– Não. Poderá ajudar-me daqui. Quantos mais amigos sensatos tivermos quando encarnamos, melhor será para nós.

– Quando vai encarnar?

– Um tempo. Não sei. Sete ou oito anos. Tempo de esperas...

É sempre bom refletirmos sobre o processo da vida. Eu esperava pelo desencarne de Fátima da Cunha para encontrá-la e Luana esperava o seu tempo de encarnar para encontrar o Lucas. É assim mesmo que as coisas acontecem. Daqui e daí. Almas se buscam, se querem, necessitam-se. Não importa ser “morto” ou “vivo”. Importa que nos amemos e a Lei nos reconduz uns aos outros. O fato é que Luana estava feliz e era meu dever felicitar-me com ela, afinal os grandes amigos se felicitam juntos.

Minha amiga convidou-me a ir a uma casa que ficava um pouco afastada do núcleo central da colônia. Morava ali um Espírito que tinha uma história linda para contar. Era uma história de morte, mas linda como quê. Ao chegarmos àquela casa fomos atendidos por prestimosa senhora que nos convidou a entrar e ocuparmos um local naquela sala de música onde suaves mãos infantis dedilhavam o teclado de um piano.

– Então desejam saber casos sobre mortes? Perguntou-nos.

– Sim. Estamos catalogando alguns e pretendemos publicá-los no plano físico se Jesus permitir.

– E quem os indicou a mim?

– Foi uma amiga sua que a conhece e disse que ficaríamos encantados com sua história e de sua família quando estavam juntos na última encarnação. Respondeu Luana.

Aquela senhora de expressão angelical tomou de uma caderneta de anotações e passou-nos a ditar os escritos do marido. Ela os colheu quando ele grafou suas lembranças, num dia daqueles em que a saudade que sentia por ela apertava:

– Vamos, dizia afobado o tomador de contas daquele barco de pescas. Era bem tarde e precisávamos descansar. Bem cedo sairíamos em busca de peixes. Essa era a nossa profissão. Eu tinha vinte e oito anos de muitos sonhos. Queria ser rico, deixar aquela vida de incertezas, de marés altas, poucos peixes e noites frias. Decididamente não me via levando toda uma vida naquela faina desesperada pela sobrevivência. É claro que a vida de pescador tem lá suas efemérides. As paixões pelas mulheres são mais intensas, as ondas do mar, voluptuosas, incitam a sensualidade e ficamos loucos para retornar aos lares, ao encontro das nossas esposas. Talvez seja esta a razão principal daquelas agruras noturnas na busca dos nossos víveres. Maria Augusta era minha esposa. Havíamos nos encontrado ainda adolescentes e já tínhamos três filhos e muitas histórias juntos.

Foi aí que aquela senhora, Maria Augusta, entregou a caderneta a Luana pedindo:

– Pode ler para mim?

Acho que as emoções a impediriam de tal e Luana, ajeitou-se e recomeçou a leitura de onde nossa anfitriã havia parado:

– Sabíamos canções e danças e cantávamos e dançávamos feito crianças à espera do futuro. Era incrível aquela mulher que sabia fazer do nada o tudo que nos encantava. Certa feita fomos ao mercado central na grande metrópole. Nosso dinheiro era pouco e as ofertas muitas e variadas. Maria Augusta queria a todo custo nos ver felizes. Éramos cinco pessoas e nossas economias mal davam para nos alimentar naqueles quiosques de sabores variados. Juninho queria sempre mais. Mariana contentava-se com menos e Marcos era uma verdadeira pimenta avermelhada pronta a queimar quem dela se aproximasse. Assim eram nossos filhos. Maria Augusta levou algumas guloseimas feitas com frutos do mar para o caso de o dinheiro acabar. Ali estávamos muito mais pelo passeio que pelo consumo. Houve um instante em que Mariana nos pediu uma boneca. Dificilmente pedia alguma coisa de forma que nossos corações bateram apertados. Como comprar uma boneca que custava todo o dinheiro que levávamos? Vimos que ela quase chorou quando deu por conta do absurdo do seu pedido e rapidamente tentou se desculpar, pois sabia que Juninho e Marcos também pediriam algo. Maria Augusta foi até a loja onde se encontrava a tal boneca e pouco depois saiu de lá não só com ela, mas também com mais dois outros presentes que encheram de alegria os corações dos meninos.

À medida que Luana ia lendo e todos envolvidos pelas notas musicais daquele piano sabiamente tocado por mãos de veludo de uma doce menina, comecei a sentir uma emoção e minhas lágrimas insistiam por cair. Mais tarde conversando com Nuar sobre o assunto ele me disse:

– Elias, quando estamos diante a espíritos de natural bondade, suas vibrações buscam as fímbrias mais sensíveis do nosso ser. E elas desabrocham por instantes e, por instantes, tornamos tão bons quanto nosso interlocutor e choramos pelo que seremos um dia quando a bondade for nossa conduta definitiva.

Meditei muito sobre aquela informação. Meditei profundamente. Vi que a bondade existe em mim, em você, em todos. Basta apenas ativá-la. Bem, continuemos. Luana continuava:

– Não quis saber o que minha mulher conversou com os donos daquele estabelecimento. Foi tudo muito rápido e quando chegamos em casa, as crianças estavam felizes e mostravam seus brinquedos às outras crianças que compartilhavam com elas a ventura de uma experiência nova com brinquedos vindos da metrópole. Um dia, ao retornar para casa, vi Maria Augusta às voltas com várias formas contendo assados e cozidos feitos dos produtos do mar. Era exímia cozinheira e, na manhã do dia seguinte, tomou o barco que ia à metrópole e levou as delícias da sua cozinha. Entendi tudo. Iria pagar sua conta naquela loja. De fato, conseguiu trocar os brinquedos por aqueles alimentos que com certeza encantaram os proprietários daquele estabelecimento. Ao chegar a casa, à tarde, disse-me quase ao pé do ouvido:

– Para tudo se dá um jeito. Os filhos antes de serem nossos, são de Deus e o Pai Maior resolve as questões mais difíceis. 

Nossos filhos ficaram felizes com os brinquedos e o passeio. Em suas mentes implantamos as essências de um momento feliz, daqueles que se leva para toda a vida e se conta para filhos e netos, multiplicando-os. E foi tão fácil. Porém, na manhã de certo dia, Maria Augusta resolveu não acordar mais. Dormiu feliz por nos ver felizes. Nossa noite havia sido de contos de histórias. Rimos muito e deitamos naqueles lençóis alvos e limpos na certeza de que nos encontraríamos com as sereias, as ondinas e todas as expressões sublimes da natureza expressas nos mitos do mar. Tentei despertá-la. Maria Augusta estava imóvel e com semblante de paz. Percebi que seus pés e mãos estavam muito frios. Atirei-me feito louco em seu peito, abraçando-a, querendo ouvir o pulsar do seu coração querido. Nada. A companheira da vida resolveu descansar. Seus olhos candidamente fechados davam a certeza que aquela ave voara para as fadas dos seus contos. Chorei copiosamente. Nunca me havia imaginado na sua ausência e agora o que falar para os filhos que, não demoraria muito, iriam chamá-la para o café da manhã e sua companhia até a escola da aldeia? Cobri seu rosto com tristeza, porém com a solenidade que o momento requeria. Caminhei devagar por entre os cômodos daquela vivenda simples. Eram cinco e trinta e cinco da manhã. As crianças acordavam por volta das seis e quinze. Tive tempo de fazer-lhes o café, esquentar o leite e providenciar as rosquinhas de nata que nossa fada madrinha sempre preparava para todos nós. Montei a mesa. Coloquei a caneca de cada um nos lugares que estavam acostumados, inclusive a de Maria Augusta. Ela teria feito o mesmo, caso fosse eu o pássaro viajor. Depois fui ao quarto dos meninos e os acordei com cuidado. Pedi que se levantassem e tomassem o café, pois mamãe estava descansando um pouco mais naquela manhã. Respeitaram seu repouso e, após o café fui com eles até a escola. Precisava conversar com alguém longe deles.

Procurei a diretora da escola, D. Joaquina. Contei a ela o que estava acontecendo e imediatamente solicitou a presença do médico do sindicato para certificar aquele óbito. Às nove e trinta tinha nas mãos o documento comprobatório e antes que a notícia se espalhasse, colocamos Maria Augusta na sala da nossa vivenda para ser velada pelos amigos. O sindicato providenciaria todo o funeral.

Estava torturado, moído, espedaçado, mas tinha que conversar com as crianças. Elas não podiam saber do acontecido através de outras pessoas. Seria traumático para elas e impuro para mim. D. Joaquina foi a santa protetora daquele momento e, ali, na sua sala, Mariana, Juninho e Marcos ficaram sabendo que sua mãezinha estava a caminho dos sítios mais brilhantes daqueles céus inesquecíveis de grãos de estrelas espalhadas pelo infinito. Mariana tinha dez, Marcos nove e Juninho apenas sete. Suas lágrimas foram silenciosas e nos abraçamos como náufragos à procura de um porto. Nossas emoções se confundiram e Mariana surpreendeu-nos. Quase entre soluços falou no seu canto de cotovia:

– O que estamos esperando? Vamos. Precisamos estar ao lado dela nesta hora. Precisamos ser fortes para que ela fique feliz. 

–Toda a aldeia já sabia. Maria Augusta era querida por todos e nossa vivenda já estava cheia de amigos quando chegamos. À nossa passagem as pessoas olhavam meus filhos e balançavam negativamente as cabeças certamente perguntando-se o que seria delas. Adentramos o recinto. Almas amigas já haviam providenciado castiçais com velas e ramos de flores que colocaram à cabeceira da mesa. O quadro só não era aterrador para aquelas crianças porque ali estava uma santa que apenas orava de olhos fechados e mãos postas sobre o peito. Aproximamos e Marcos levantou com suavidade o véu que cobria o rosto da sua mãe. Ao olhá-la as crianças estremeceram. Abraçaram-me com força e deram suas mãos formando uma corrente. Mariana continha as lágrimas que caíam abundantes em nossas faces. Foi forte e orou:

– Mãe querida, se está nos deixando deve ser por uma razão muito certa. Não queremos atrapalhar seus caminhos, mas leve em seu coração a nossa mensagem de alegria e gratidão por ter vivido conosco e nos ensinado a andar sem medos pelas estradas da vida. Vá com Deus, mamãe.

Dito isto, minha filha afastou-se. Começou a andar pela praia e pediu que ninguém a seguisse. Havia no final uma pedra muito grande, formando pequeno platô. Era ali que Maria Augusta me esperava junto com os filhos quando meu retorno era mais demorado. Mariana retornou àquele local e ficou lá o dia todo. Tentava controlar-me e controlar Marcos e Juninho. À tarde, como era costume da aldeia, colocamos o corpo no barco e demos uma volta pela orla e depois o depositamos no campo consagrado aos mortos. Ao retornar, Mariana estava em casa e ajeitava tudo. Amigos trouxeram-nos alimentos e, sozinhos, alimentamos nossos corpos. Era necessário dormir, descansar e aguardar novo dia para novas decisões. Na manhã do dia seguinte, ao acordar, Mariana já havia se levantado e preparava o café da manhã. Os uniformes da escola já estavam arrumados e prontos para serem usados. Quando nos levantamos, apenas nos cumprimentamos e cada qual foi cuidar das suas coisas. Voltei ao mar, na pesca das nove e as crianças foram para a escola. Evitava olhar para as pessoas. Com certeza todas elas teriam uma palavra de consolo. Palavras que não queria ouvir. Cada consolo era a confirmação da morte de Maria Augusta que minha mente lutava por não admitir.

Dois meses depois a vida voltou ao normal. Mariana assumiu o comando da vivenda. Era a lembrança da mãe e era a fada que se construía para enfeitar novo castelo que certamente haveria de surgir um dia. Nossas lágrimas eram silenciosas e cada qual as vertia no seu canto, à sua maneira. Era sábado à noite. Normalmente naquela hora dos sábados íamos todos na pracinha central cantar e dançar. Fazia tempos que não íamos. Era dia do aniversário de Maria Augusta. Estaria completando vinte e oito anos. Juninho teve a ideia de cantarmos parabéns para ela e ascendermos as velinhas correspondentes. Marcos calou-se e eu aguardei a resposta de Mariana.

– Sim, mamãe não morreu. Eu a vejo sempre e ela me ensina tudo o que devo fazer. Apenas teve que ir mais cedo e deixou para nós a missão de crescermos em paz, sem decepcioná-la, pois, que muito nos ensinou.

Aquilo foi um susto para todos. Como aquela criança podia falar daquele jeito e com tamanha certeza? Perguntei a ela enquanto seus irmãos também queriam fazer o mesmo.

– Ela me fala.

– Mas ela está morta Mariana. Gritou Marcos explodindo suas mágoas reprimidas.

– Não Marcos. Ela não está morta. Apenas vive de outro jeito.

– Que jeito? Perguntou chorando o Juninho.

– O Jeito que as pessoas que vão embora vivem, respondeu Mariana.

Achei que minha filha estava ficando desmiolada. A ausência da mãe poderia ter causado naquele cérebro algumas lacunas que ela preenchia com ideias da sobrevivência da mãe morta e enterrada. O tempo passava e Mariana fazia tudo de tal forma que nossa vivenda começou a encher-se de alegria novamente. Não conversamos mais sobre aquele assunto. E cada qual fazia a sua parte para que a vida voltasse e se firmasse numa normalidade. Cada qual fazia suas orações em silêncio e cada um sentia suas saudades de maneira respeitosa, pois Mariana nos dissera que os mortos necessitam de paz para continuarem escrevendo suas histórias. Quanto mais paz da nossa parte, melhores serão os seus feitos e escritos. Contou-me certa vez que Júlia Campos, a mulher de outro pescador, morta pelo veneno de uma cobra, andava de um lado para o outro, desesperada, porque seu marido e filhos não conformavam com sua morte e a aturdia com suas queixas e mágoas reprimidas.

Passaram-se doze anos. As crianças cresceram. Marcos estava com vinte e um e foi servir na Marinha. Juninho, com dezenove, tornou-se músico e viajava com a orquestra do seu Miquéias, levando para o mundo nossas cantigas folclóricas e Mariana, de vinte e dois, cuidava do marido e dois filhos. Como estavam todos bem, meu corpo cansado de tantas noites em vigília não suportou uma virose e acabei por deixá-lo também. Cheguei ao mundo dos mortos. Era diferente embora conservasse todas as minhas sensações e desejos. Andei peregrinando por vales e pastagens. Via pessoas que também caminhavam à procura de algo ou alguém. Eu fazia o mesmo. Queria rever Maria Augusta. Mariana, enquanto crescia, nos ensinava como morrer. Ela conversava diariamente com pessoas desligadas do corpo de carne e eles falavam das suas experiências. Às vezes ficávamos assustados, outras curiosos. No geral, aquelas informações fortaleciam nossas mentes para o caso de nos acontecer o mesmo. De modo que estava ali à deriva, mas certo de que era natural, que não havia morrido. Naquele caminhar, um dia avistei uma silhueta de mulher que vinha em minha direção e acenava-me com insistência pedindo para que eu também me aproximasse. Atendi. Ao chegar, deparei-me com Mariana. Ela me abraçou e disse:

– Por onde andava papai. Faz tempo que o procuro. Quero saber como está.

Não respondi. Olhava-a apenas. Ela era viva e tratava da morte com absoluta naturalidade enquanto a grande maioria coloca barreiras quase intransponíveis entre uma realidade e outra. Mariana afagava meus cabelos esbranquiçados, minha barba por fazer, meus olhos fundos e beijava minhas mãos depositando nelas o afago de filha agradecida.

– Quem é você Mariana? Por que convive com tanta segurança entre a vida e a morte?

– Porque tudo é vida, pai. Vive-se nas duas dimensões. A morte só existe para aqueles que nela acredita. Sabia que existem pessoas que cultuam a morte apenas para fugir da vida?

Olhei para o alto e vi estrelas. Minha filha devia fazer parte de uma delas.

– Não pai, vivo num planeta chamado Terra. Uma grande escola que nos oferece todos os aprendizados necessários aos nossos sentidos. Ainda não posso caminhar pelos céus, mas procuro caminhar na Terra buscando entender tudo o que ela tem para nos ensinar.

Mariana teve que retornar a seu corpo e seus afazeres. Ainda fazia parte do mundo dos vivos. Certamente diria que sonhou comigo ou que se encontrou comigo. Informações talvez exageradas para as mentes comuns e confusas que insistem por permanecer assim. E ali entendi que não era necessário procurar Maria Augusta. Ela surgiria, como surgiu Mariana. Ela apareceria caso fosse necessário. Aquelas mulheres da minha vida eram luzes que eu precisava tocar que precisava ser inundado por elas, que precisava entendê-las.

Continuei minha caminhada. Agora sei que não se morre e que os seres que temos aos nossos lados também não morrem e nem nos abandonam se morremos porque fatalmente um dia nos reencontramos, pois todos estamos interligados numa corrente que nos transporta para a libertação das nossas almas das fases infantis da evolução.

Terminada a leitura. Luana estava muito séria. Maria Augusta de cabeça baixa pensava em algo.

– Pode nos dizer onde está seu esposo Maria Augusta?

– Aprendendo numa colônia distante daqui.

– Visita-o?

– Sim. Ele, porém, ainda não pode vir até esta colônia. Um dia poderá, quando renascer e vencer a morte. Tive uma louca vontade de perguntar por Mariana, mas não foi preciso. Maria Augusta dirigiu-se àquela criança angelical que dedilhava o piano e a pediu que tocasse uma das canções que cantavam juntas quando encarnadas e foi aí que Mariana, de olhos de luz, tocou com suavidade:

“Se essa rua, se essa rua fosse minha. Eu mandava, eu mandava ladrilhar, com pedrinhas, com pedrinhas de brilhantes, para o meu amor, para o meu amor passar...”

Amigos, como eu chorei. Como estava distante daquelas duas almas de luz. Maria Augusta e Mariana. Elas vieram em meu socorro e me disseram que o amor dilui nossas fragilidades e nos torna invencíveis quando estamos a caminho do bem.

– Continue seu trabalho Elias. Vai ajudar a tantos! A voz suave e cálida de Mariana quase me levou ao êxtase. E isto me fortalece para dizer a você leitor ou leitora deste instante:

– Fortaleçam-se na presença da morte, pois ela pode estar libertando uma ave sublime para os céus que a aguarda.

Luana continuava muito pensativa. Foi aí que tomou coragem e perguntou:

– E você Mariana, por que se fez menina de novo?

Ambas, mãe e filha sorriram e depois se abraçaram.

– É que eu vou nascer de novo e já estou me preparando. E ela – disse apontando para Maria Augusta – será minha filhinha. Como ela me amou tanto como mãe, agora vou amá-la muito como filha e o papai irá e vão se encontrar e a morte nunca mais vai separá-los!

Melhor não dizer mais nada. Saiamos dali em êxtase.

– O que é isto, meu Pai? O que nos aguarda para quando formos espíritos puros habitando sítios suntuosos do universo?



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