Conversando com Dona Celestina - Guaraci Silveira

Relembremos a informação: depois que deixamos o corpo de carne muitas surpresas nos aguardam no mundo espiritual. Surpresas boas ou más. Tudo vai depender de como utilizamos o tempo que nos foi concedido na última encarnação. Ao renascermos levamos conosco uma proposta de vida, geralmente um acordo firmado entre nós e as Leis Divinas. Irmãos experientes em analisar nossos perispíritos e nossas histórias, propõem-nos um roteiro. Aceitamos e lá vamos nós de mochila nas costas, em busca de um tempo melhor. Em plena encarnação surgem os dramas naturais da vida. Os dramas podem ser definidos como uma sucessão de acontecimentos que geram ou não tumultos em nossas vidas. São os conflitos naturais que nos visitam no afã de limar a alma, se assim podemos dizer. Estar, pois, vivendo um drama significa, em última análise, estar cumprindo o acordo anteriormente firmado. Mesmo que nossos dramas sejam carregados de tragédias. As tragédias propriamente consideradas são apenas aquelas que geramos. Surgem quando nos desvirtuamos dos caminhos dos acordos. Podem ser os suicídios, homicídios, ações violentas que lesam terceiros etc. As tragédias vindas de fora, ou seja, não perpetradas por nós, representam dramas, perfeitamente acordados anteriormente. Assim, se um avião cair em nossa cabeça, um raio nos atingir, uma bala perdida nos encontrar quando estamos no mister de cumprir nossas atividades quotidianas, não representam para nós uma tragédia. Faz parte do drama, do acordo que aceitamos anteriormente antes da reencarnação. De forma que as palavras dramas e tragédias devem ser bem estudas para que não as confundamos e imputemos a Deus acontecimentos danosos que nos surgem e que até podem nos tirar da vida física. Acordos e dramas. Eis a proposta. Caso alguém cometa uma tragédia, terá que fazer novo acordo, com novo drama podendo daí surgir novas e perigosas tragédias até que a misericórdia divina interfira e crie situações inibidoras das ações nefastas. Enquanto vivemos nossos dramas, estamos com toda a assistência espiritual por fazer parte do acordo inicial. Estão eles em perfeita sintonia com nossas reais possibilidades de vencê-los. Quando cometemos as tragédias, fugimos dos acordos e temos que responder por nossas ações. Isto tudo aprendi por aqui.

Em colônias espirituais cujo padrão é o estudo e a prática do Evangelho de Jesus, pairam a serenidade e condutas retas direcionadas ao bem comum. Muitas vezes encontramos espíritos de sabedoria e delicadeza que nos colocam em situações comovedoras. Eles ensinam e conduzem almas ainda nos primeiros passos da vida espiritual levadas a essas colônias em condições difíceis, necessitando de apoio. Encontrei aqui Dona Celestina. Difícil descrevê-la. Espírito superior que já venceu as torturas da carne e da matéria e hoje dedica seu tempo e conhecimentos a conversar fraternalmente com irmãos e irmãs ainda distanciados dos puros e reais fundamentos da vida, a partir das Leis de Deus, criadas para nos conduzir com segurança pelas vias da evolução.

Certa feita tive o prazer de conversar com Dona Celestina. O momento era meu. Fui convidado por Nuar que me levou até ela. Então conversamos:

– Elias, fiquei sabendo que pretende escrever para os nossos irmãos encarnados falando-lhes da realidade sublime da morte. Estou certa?

– Sim. Estou colhendo informações, catalogando-as de forma que consiga colocar todos os ângulos da questão para uma análise dos encarnados, preparando-os para esse inevitável processo.

– Bela a sua atitude. Fico feliz por você. Somente o aconselho a escrever de forma que nossos companheiros não se assustem. As fundamentações errôneas sobre este tema estão terrivelmente arraigadas em suas mentes. Fazem da morte um monstro a devorá-los e quase sempre se tornam vítimas deles. A ideia de um ser dantesco com uma foice a ceifar vidas está estabelecida de forma perigosa na psique humana. Esquecem-se de que Deus a tudo preside e que todas as criaturas são por Ele amadas e conduzidas com segurança, mesmo aqueles rebeldes que insistem por postergar sua adesão aos princípios superiores que nos conduzam ao Pai. Muitos deles aproveitam do desencarne e buscam confirmar nos incautos suas ideias negativas de que Deus é vingativo, punitivo, mal e que nos dá e nos tira a vida a Seu bel prazer. São desvios perigosos. Rebeldias próprias de crianças espirituais que preferem a desarmonia ante a morte que o entendimento da sua justa presença entre os encarnados.

Ela falava olhando meus olhos. Nela, a morte não simbolizava um muro intransponível para aqueles que vivem na carne e se sentem encurralados diante dessa barreira.  Ela o havia transposto com naturalidade e dizia olhando horizontes infinitos que se nos desdobram após vencidos os receios e as agruras indébitas quando no processo tanto dos desencarnes próprios quanto dos entes queridos.

– Elias, pode haver na vida do encarnado três grandes momentos: a reencarnação, a consolidação da união conjugal e a desencarnação. São ritos de passagem quase comuns a todos. Dois instantes são considerados bons, momentos felizes, mas a morte é vista como um mal necessário. Veja como a dualidade persiste nas almas encarnadas. Sempre a proposta do bem e do mal, como se nosso Pai a instituísse em nossas vidas. Por que dois momentos bons haverão de nos conduzir a um momento mal? Qual a razão disto? Por que haveríamos que passar por estes três instantes, dois de gozos e um de tormentas? Pode explicar-me?

– Suas palavras deixam-me sem respostas dona Celestina. Por favor explique-me. Respondi-lhe aguardando seus ensinamentos.

– Não é tão difícil de entendermos a questão. É que ao longo da existência física, quase sempre vamos catalogando erros, repetindo ações nefastas do pretérito, postergando mudanças em nossos hábitos, acomodando-nos em nossas propostas anteriores de sermos semideuses a ditar-nos e aos outros leis que gostamos e que achamos justas. Quando chega o momento do desencarne, tudo isto será posto à prova. Quase sempre o momento fatal é de receios do que se vai encontrar por não ter bem aproveitado o tempo concedido na encarnação. Então fazemos da morte um monstro, um juiz e um tribunal a julgar nossos atos, quando na verdade, o juiz somos nós e tribunal é nossa própria consciência. Deus não vai nos julgar, nem nos punir. Ele vai nos oferecer recursos novos e sempre a partir daquilo que fizemos de nós. Tragédias geram tragédias. O bem gera o bem. A morte é o grande mediador, o grande aferidor das nossas ações. Precisamos sim, morrer na carne para vivificar o espírito. Se não houvesse a morte seriamos mortos vivos perambulando no mundo, náufragos e colocados à margem da sociedade. Ela chega para nos alinhar às propostas superiores que nos regem. E agora já se sabe que existem colônias espirituais, abrigos, refúgios ou locais próprios para reflexões profundas do que se é e do que se pretende para si.

Enquanto dona Celestina falava, me reportei ao umbral. Muitas pessoas o consideram o Inferno pregado em várias regiões, local das penas eternas, das almas sem salvação. Entendia agora que esse plano é, na verdade, criado por espíritos que se juntam pela vibração doentia, presos por propostas infelizes, torturados por si mesmos, vítimas de um ego egoísta, inferior. Mas sua permanência nessa condição é temporária e pode projetar no espírito o desejo de acender a outros locais onde se capacita a saber sobre o real sentido da vida. Dona Celestina parecia ouvir meus pensamentos e acrescentou:

– O umbral não é um local, bom ou ruim. É um processo por intermédio do qual os espíritos encontram-se diante do tribunal da consciência, vivenciando intensamente o mal que acumularam. Ali permanecerão, indefinidamente, até que o arrependimento os eleve a Deus e os retire dessa condição. Muitos ali estão por fixação mental, atrelados a outros aos quais se ligaram perversamente. Lá permanecerão até que a Providência Divina, compulsoriamente, os reconduza à reencarnação.

– É a misericórdia? Perguntei.

– Sim. a misericórdia de Deus nos alcança desde nossa criação, onde estivermos, seja qual for nossa condição. Há a misericórdia que nos retira do erro e há a misericórdia que nos sustenta na luta. Em tudo, como percebe, estamos amparados por Sua Augusta Proteção.

– A morte de fato não existe! Exclamei.

– Não existe e nunca existirá... Trata-se apenas de uma transformação biológica. O corpo físico se desfaz, devolve à terra os elementos dela emprestados para sua formação. O espírito eterno retorna ao plano espiritual e, segundo suas necessidades evolutivas, prepara-se para nova existência no corpo material. Quando entendemos assim, destruímos em nossa psique o medo e até o pavor do desencarne. Diga isto aos encarnados, meu filho, e realizará um grande trabalho no cômputo das informações que libertam.

Saí dali muito feliz. Mais tarde encontrei Luana e Carlos, amigos que também desejavam pesquisar sobre a continuidade da vida.  Falei com eles minha experiência. Luana olhou-me de forma diferente. Depois pegou minhas mãos e me disse:

– Gostaria muito de participar deste trabalho com você. Permite-me?

– Minha amiga, quem sou eu para negar ou aprovar? Ter sua presença e a de Carlos certamente me darão forças e maior entendimento do assunto. Nós três podemos fazer mais e melhor.

Assim a vida continua. Desejando entendê-la, portas se abrem. Então não é preciso temer o desencarne ou a morte como gostam de dizer ainda no plano físico. Aqui tudo flui da maneira como nos preparamos. Desta forma digo a todos vocês que agora estão lendo este caso, deixem de lado os receios e vivam com intensidade cristã. Esta é a forma mais eficaz de bem chegar aqui. O cristianismo prega o amor a Deus e aos semelhantes como a si mesmo. Aí se encerra todo o conteúdo do viver corretamente. Jesus, ao indicá-lo, estava nos colocando face a face com a verdade espiritual. Então, vamos em frente, vivendo com alegria e certeza na vida que continua e nunca cessa.


(*) Este conto foi mediunicamente inspirado pelo Espírito Elias a Guaraci de Lima Silveira, que reside em Juiz de Fora, MG.



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