Cartas consoladoras: alerta necessário - Marcus De Mario
Temos visto muitos médiuns por este Brasil anunciarem sessões de psicografia de cartas de Espíritos recém desencarnados, dirigidas aos seus familiares, assim como a divulgação de instituições espíritas especializadas em receber esse tipo de comunicação. Essas psicografias são denominadas de cartas consoladoras, e somos os primeiros a reconhecer sua utilidade, quando produzidas sem nenhum interesse oculto, quando são recepcionadas de boa-fé pelos médiuns, mas também temos o dever, à luz da Doutrina Espírita, de alertar aos médiuns, aos familiares de quem desencarnou, e ao público em geral, que essa modalidade mediúnica é das mais fáceis de ser imitada, de ser fraudada, o que nos leva a solicitar cautela.
Existem várias condicionantes para que um recém desencarnado possa se comunicar, possa transmitir uma mensagem, e conhecer essas condições pode nos precaver de um embuste, de uma fraude. Primeiro, nem todo aquele que desencarna está em condições de escrever através de um médium; segundo, se tiver essa condição, pode não ter autorização dos Espíritos Superiores; terceiro, se tiver autorização, pode não querer escrever, pode não querer fazer o contato com os familiares que ficaram aqui na Terra; quarto, se as condições anteriores existirem, os familiares podem não estar em condições de receber a mensagem, de não entendê-la, o que faz com que o Espírito adie sua comunicação; quinto, não é fácil fazer a sintonia com um médium, isso depende de vários fatores; sexto, os desencarnados tem mais o que fazer, e não se submetem à vontade dos encarnados, não ficam a obedecer suas ordens, ou seja, nenhum médium pode marcar dia e hora para que este ou aquele Espírito se apresente, venha se comunicar, pois com a morte ele não perde seu livre arbítrio, sua vontade própria.
Por todos esses motivos, é muito questionável que um médium anuncie que vai estar em tal cidade, em tal instituição, no dia tal, horário tal, para receber as mensagens consoladoras dos entes queridos recém desencarnados. O médium pode comparecer, mas e os Espíritos? Temos que ter muito cuidado com esse tipo de anúncio, pois, repetindo, os Espíritos não estão sob nossas ordens, e o retorno ao mundo espiritual, para a grande maioria, é acompanhada de perturbação de médio ou longo curso, impossibilitando o envio de qualquer notícia, de qualquer comunicação.
Temos, quanto a isso, experiência pessoal acontecida quando da desencarnação de um dos nossos irmãos. Uma querida tia procurou uma instituição espírita especializada em cartas consoladoras psicografadas, e aqui devemos abrir um parêntesis para esclarecer que essa classificação não existe para o Espiritismo, enfim, levou o nome do nosso irmão e, ao longo de alguns meses, lhe foram entregues algumas cartas que ela, gentilmente, nos endereçou. Nelas nada encontramos que abonasse terem sido escritas pelo nosso irmão. Nem o linguajar, nem o estilo, nem o conteúdo trouxeram qualquer prova de autenticidade. Se as palavras eram boas, no sentido de levar paz e consolo a quem lesse, nada revelavam além do que já sabemos e temos com a Doutrina Espírita, e chegamos à conclusão que o próprio médium poderia ter escrito, caracterizando o fenômeno do animismo, pois assumimos que não haveria má-fé, que o médium não teria inventado a comunicação, embora não pudéssemos isso afirmar categoricamente.
Outra questão de suma importância, principalmente agora em tempos de redes sociais, é a da autenticidade, do conteúdo da carta trazer informações pessoais e/ou familiares, que seriam de único conhecimento dos entes queridos. Temos visto muitas comunicações trazendo informações que são de domínio público, que qualquer pessoa pode acessar pela imprensa ou pelas redes sociais, e isso não é prova de autenticidade, pelo contrário, é motivo de suspeitarmos do médium, pois ele poderia perfeitamente ter acessado previamente essas informações, pois muitos médiuns e instituições solicitam um cadastro prévio, o que é muito suspeito. A melhor psicografia de um ente querido desencarnado é aquela que ocorre espontaneamente, sem que o médium nada saiba, nem mesmo o nome do Espírito.
Aos que querem estudar melhor o assunto, e ter um bom exemplo, recomendamos se debrucem sobre a vida e obra do médium Chico Xavier, e conheçam os livros psicografados por ele, cujas cartas consoladoras foram exaustivamente pesquisadas, tais como: Entre Duas Vidas; Amor Sem Adeus; Eles Vivem; Somos Seis; Encontros no Tempo; Jovens no Além, entre outros. Provas insofismáveis de autenticidade são desfiladas aos olhos do leitor, com depoimentos dos familiares corroborando a autenticidade, e sem que Chico Xavier conhecesse qualquer um dos Espíritos, nem seus familiares que o procuravam em Uberaba. As mensagens aconteciam de forma espontânea, e nem todas as pessoas tiveram o seu desejo atendido, pois, como ele falava, o telefone toca de lá para cá, e não o contrário.
Que os dirigentes espíritas e os médiuns se conscientizem que a mediunidade deve ser levada muito a sério, e que busca da fama por parte do médium, e de alta frequência de público, por parte da instituição espírita, não fazem parte do Espiritismo.
Compreendemos a natural ansiedade dos familiares por notícias do ente querido que retornou ao mundo espiritual, mas que essa ansiedade seja disciplinada e orientada pelos dirigentes dos centros espíritas, explicando que os médiuns não são máquinas reprodutoras de mensagens, e que as cartas consoladoras não dependem deles, mas dos que se encontram agora na outra dimensão da vida, dando continuidade ao seu progresso, tanto quanto nós outros devemos igualmente fazer aqui no mundo material.
Marcus De Mario é escritor, educador, palestrante; coordena o Seara de Luz, grupo on-line de estudo espírita; edita o canal Orientação Espírita no YouTube; é editor-chefe da Revista Educação Espírita; produz e apresenta programas espíritas na internet; possui mais de 35 livros publicados.
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