Amor ao próximo - Ricardo O. Forni

“A guerra é sempre a escolha de quem não tem que lutar.”

A frase mencionada acima aparece em uma adaptação à música Ave Maria de Schubert, cantada pelo vocalista do grupo U2 fazendo dupla com Pavarotti compondo um dueto muito bonito.

Obviamente que a frase se aplica especificamente à guerra, mas gostaríamos de ampliar o conceito de batalha de um país contra outro, para o desrespeito que estamos a ver nos acontecimentos que grassam por todo o planeta que se agita na sua caminhada em direção a um mundo de regeneração. Desrespeito esse de um homem em relação ao seu semelhante das mais variadas maneiras que se possa imaginar e que também fuja à nossa capacidade de pensar.

Dias desses, um determinado canal de televisão mostrou uma senhora, obviamente de parcas condições financeiras, esmolando sebo (sebo mesmo!) a um açougue para que ela pudesse colocar dentro do feijão que fazia como único recurso de alimentação. E quando indagada se era somente para ela aquele prato, já que morava sozinha, ela respondeu que não porque vários filhos que moravam por perto vinham alimentar-se em sua casa quando nela havia algum alimento.

Parece-me que essa situação se assemelha a uma espécie de guerra de semelhante em relação ao outro, em descumprimento do primeiro e maior dos mandamentos das Leis de Deus.

Muitos chegaram a essa conduta por não identificar que o sagrado que existe nele, por ser filho do Criador, também existe no outro. O termo Namastê, empregado por algumas criaturas para saudar a outra, seria de boa lembrança.

O mesmo direito que nos autoconferimos também é direito do outro a quem desconsideramos de uma maneira desonrosa para um ser humano.

Doutor José Carlos de Lucca, em seu livro Levanta e Segue, editora Frei Luiz, no capítulo intitulado Honrar O Divino Em Cada Um, nos fala sobre essa necessidade que teimamos em ignorar sem raciocinar nas consequências dolorosas para nós mesmos.

Vejamos algumas de suas ponderações: “O mesmo Deus que habita em mim também habita o coração do próximo. Esse olhar nos levará à conclusão de que não existe separação entre os homens; por isso, tudo aquilo que fizermos ao próximo estaremos fazendo também a nós mesmos. O reino de Deus, objetivo maior da mensagem de Jesus, nada mais é do que esse estado de espírito em que os homens se veem e se tratam como irmãos uns dos outros.”

A condição para um mundo de regeneração tão mencionado e desejado é exatamente por esse caminho. Quanto mais empurrarmos para frente com a indiferença pela dor alheia em relação àquele que tem o mesmo direito que reivindicamos, tão mais demorado ele se instalará no planeta Terra.

É urgente e necessário eliminar a necessidade de alguém colocar sebo em um caldo de feijão como o último recurso para alimentar-se!

Não pode continuar a realidade de seres humanos procurarem o que comer em lixões enquanto mesas fartas atiram ao lixo alimentos para satisfazer a gula!

Não deve permanecer a condição de muitos se vestirem com trapos enquanto poucos desfilam com roupas de grife, muitas vezes utilizadas poucas vezes e, depois, ficarem esquecidas em guarda-roupas abarrotados!

Como ingressar em um mundo de regeneração enquanto seres humanos se refugiarem esquecidos embaixo de viadutos em noites de inverno rigoroso? De seres humanos que pernoitam açoitados pelo vento cortante e gélido das noites frias, como frio é a insensibilidade nossa para com eles?

O planeta não mudará para um mundo melhor enquanto um pai seviciar uma filha dentro do ambiente de uma casa que deveria ser um lar sagrado!

A maldade para com os animais também é uma trena que mede a distância entre um planeta de provas e expiações e um planeta de regeneração. Que o diga em testemunho dessa verdade mais um Natal dos homens (e não de Jesus) que se aproxima e se transformará em sentença de morte para esses nossos irmãos mais novos, tendo como objetivo a satisfação da gula!

Pensar que cada criatura é sagrada em si mesma conduz, necessariamente, a uma atitude de reverência e respeito pelo outro, nos ensina o autor da página anteriormente mencionada.

Ou é assim, ou ainda amargaremos um tempo indeterminado reencarnando em um mundo de provas e expiações!



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