A violência que nos assola e seu antídoto

Não passa uma semana sem que a imprensa noticie um novo episódio dessa verdadeira guerra que se registra nas grandes cidades, particularmente no Rio de Janeiro, entre policiais e traficantes, com todas as consequências funestas que não poupam ninguém, especialmente as crianças.

Haverá um antídoto para tal estado de coisas?

É evidente que para tudo existe um antídoto. Uns têm efeito imediato, outros só produzem resultado a longo prazo.

No caso do tráfico de drogas, a causa central da violência a que nos referimos, dois são os aspectos a considerar.

De um lado estão os que vivem do tráfico e o entendem como um negócio, embora tenham consciência de que se trata de uma atividade ilegal.

Muitas pessoas pensam, ingenuamente, que a liberação das drogas acabaria com o tráfico e, por extensão, com a violência a ele pertinente. Ocorre que liberar o comércio das drogas ilícitas é o mesmo que eliminar a vigilância das autoridades sanitárias com relação aos medicamentos. Ora, quando um remédio é vendido numa farmácia, todos nós esperamos que sua composição e seus efeitos sejam do conhecimento da autoridade que o liberou. Se ele fosse nocivo à saúde, certamente não teria conseguido permissão para ser industrializado e vendido à população.

Assim se dá com as chamadas drogas ilícitas, cujos efeitos danosos são por demais conhecidos, e é por isso, precisamente por isso, que não devem ser comercializadas.

É preciso, portanto, quanto aos que se valem do tráfico, a necessária repressão, porque os traficantes não podem prevalecer-se da fragilidade dos que lutam contra a dependência química para fazer disso uma fonte de renda, fonte essa condenável sob todos os aspectos pelos quais se considere a questão.

Do outro lado estão os que adquirem o produto, movidos por uma compulsão em que é evidente não apenas determinada enfermidade catalogável nos manuais de medicina, mas também uma notória influenciação de natureza espiritual.

Aplica-se à dependência química o que Herculano Pires e outros autores, como André Luiz e Cornélio Pires, escreveram a respeito do alcoolismo. O alcoólatra não consome sozinho, como pensa, o álcool que o destruirá. O vampirismo espiritual é um fato conhecido e esmiuçado pelos estudiosos do Espiritismo.

É preciso, pois, tratar os dependentes, da mesma forma como procuramos tratar os enfermos em geral, associando, porém, nesse tratamento, aos medicamentos convencionais, a chamada medicina espiritual conjugada com os recursos educativos.

Emmanuel escreveu certa vez que somente a educação conseguirá mudar a face do mundo em que vivemos. É por isso que existe a infância, esse período indispensável à reeducação dos seres que, havendo vivido por aqui, estão de volta ao cenário terrestre.

É importante, porém, lembrar que a verdadeira educação tem por fim levar o indivíduo à perfeição e que essa caminhada rumo à perfeição requer algo mais além da simples instrução formal, ou seja, o desenvolvimento do sentimento e da sabedoria.

Sobre esse tema, escreveu Emmanuel:

“O sentimento e a sabedoria são as duas asas com que a alma se elevará para a perfeição infinita. No círculo acanhado do orbe terrestre, ambos são classificados como adiantamento moral e adiantamento intelectual, mas, como estamos examinando os valores propriamente do mundo, em particular, devemos reconhecer que ambos são imprescindíveis ao progresso, sendo justo, porém, considerar a superioridade do primeiro sobre o segundo, porquanto a parte intelectual sem a moral pode oferecer numerosas perspectivas de queda, na repetição das experiências, enquanto que o avanço moral jamais será excessivo, representando o núcleo mais importante das energias evolutivas.” (O Consolador, questão n. 204.)

A educação assim considerada nos ensinará a conviver com o próximo, aceitando-o tal qual é, com seus defeitos e imperfeições, sem a pretensão de corrigi-lo, porque o verdadeiro cristão inspira seu semelhante com bondade para que ele mesmo desperte e mude de conduta de moto próprio.

Diz Joanna de Ângelis que, ao descer das regiões felizes ao vale das aflições para nos ajudar, Jesus mostrou-nos como devem agir os que se dizem cristãos. E evocando o exemplo do Cristo, a mentora de Divaldo P. Franco recomenda (Leis Morais da Vida, cap. 31):

“Atesta a tua confiança no Senhor e a excelência da tua fé mediante a convivência com os irmãos mais inditosos que tu mesmo.

Sê-lhes a lâmpada acesa a clarificar-lhes a marcha.

Nada esperes dos outros. Sê tu quem ajuda, desculpa, compreende.

Se eles te enganam ou te traem, se te censuram ou te exigem o que te não dão, ama-os mais, sofre-os mais, porquanto são mais carecentes de socorro e amor do que supões.

Se conseguires conviver pacificamente com os amigos difíceis e fazê-los companheiros, terás logrado êxito, porquanto Jesus em teu coração estará sempre refletido no trato, no intercâmbio social com os que te buscam e com os quais ascendes na direção de Deus.”

Se os que tentam livrar-se da dependência química tiverem o apoio citado por Joanna, em lugar da condenação e do desprezo alheio, é evidente que poderão, sim, reerguer-se e voltar a ter uma vida normal, de que há inúmeros exemplos na sociedade terrena.



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