A prece é uma força tão real quanto a gravidade terrestre
A pedido de uma leitora, dedicamos hoje nossa atenção e nossos comentários ao tema prece, que foi examinado na obra de Allan Kardec em diversas oportunidades.
De forma sintética, eis o que lemos nas questões 658 a 666 da principal obra espírita – O Livro dos Espíritos:
1) A prece é sempre agradável a Deus, quando ditada pelo coração. É, pois, preferível ao Senhor a prece vinda do íntimo à oração lida, por mais bela que seja, se for lida mais com os lábios do que com o coração.
2) A prece é um ato de adoração, com o qual podemos propor-nos três coisas: louvar, pedir, agradecer.
3) A prece torna melhor o homem, porque aquele que ora com fervor e confiança se faz mais forte contra as tentações do mal e Deus lhe envia bons Espíritos para assisti-lo.
4) O essencial não é orar muito, mas orar bem. Existem pessoas, no entanto, que supõem que todo o mérito está no tamanho da prece e fecham os olhos para os seus próprios defeitos. Essas criaturas fazem da prece uma ocupação, um emprego do tempo, nunca um estudo de si mesmas.
5) Podemos pedir a Deus que nos perdoe as faltas, mas só obteremos o perdão mudando de proceder, porque as boas ações são a melhor prece e os atos valem mais que as palavras.
6) As provas por que passamos estão nas mãos de Deus e há algumas que têm de ser suportadas até o fim; mas Deus leva sempre em conta a resignação. A prece traz para junto de nós os bons Espíritos, que nos dão a força de suportá-las corajosamente.
7) A prece nunca é inútil, quando bem feita, porque fortalece aquele que ora.
8) A prece não tem por efeito mudar os desígnios de Deus, mas a alma por quem oramos experimenta alívio e sente sempre um refrigério quando encontra pessoas caridosas que se compadecem de suas dores.
9) Pode-se orar pelos Espíritos e aos bons Espíritos, porque estes são os mensageiros de Deus e os executores de suas vontades. O poder deles está, porém, relacionado com a superioridade que tenham alcançado e dimana sempre do Senhor, sem cuja permissão nada se faz.
O que lemos acima nos veio dos Instrutores espirituais e integra, pois, os ensinamentos que compõem a doutrina espírita.
É importante, então, ver o que, sobre a prece, escreveu um fisiologista e cirurgião bem conhecido. Referimo-nos ao dr. Alexis Carrel, Prêmio Nobel de Medicina de 1912 e autor do livro O homem, esse desconhecido, best-seller na América do Norte em 1935.
Eis o que Alexis Carrel escreveu em um artigo publicado na revista Seleções do Reader’s Digest de fevereiro de 1942:
1) A prece marca com os seus sinais indeléveis as nossas ações e conduta.
2) A oração é uma força tão real como a gravidade terrestre. A influência da prece sobre o corpo e sobre o espírito humano é tão suscetível de ser demonstrada como a das glândulas secretoras.
3) Muitos enfermos têm-se libertado da melancolia e da doença graças à prece. É que, quando oramos, ligamo-nos à inexaurível força motriz que aciona o universo e, no pedir, nossas deficiências humanas são supridas e erguemo-nos fortalecidos e restaurados.
4) Não devemos, no entanto, invocar Deus tendo em vista meramente a satisfação dos nossos desejos. Maior força colhemos da prece quando a empregamos para suplicar-lhe que nos ajude a imitá-lo.
5) Toda vez que nos dirigimos a Deus, melhoramos de corpo e de alma. Não tem, porém, sentido orar pela manhã e viver como um bárbaro o resto do dia.
6) Hoje, mais do que nunca, a prece é uma necessidade inelutável na vida de homens e povos. É a falta de intensidade no sentimento religioso que acabou por trazer o mundo às bordas da ruína.
A publicação do artigo se deu em um momento difícil imposto à humanidade terrena pela 2ª Guerra Mundial, conflito a respeito do qual André Luiz relatou, no cap. 18 do livro Os Mensageiros, um episódio comovente ocorrido na Inglaterra.
Em determinada noite, a cidade de Bristol estava sendo sobrevoada por alguns aviões pesados de bombardeio e as perspectivas de destruição eram assustadoras. Para dificultar o trabalho dos agressores alemães, a cidade havia sido imersa em total escuridão. Visto de muito longe, destacava-se, porém, à visão espiritual um farol de intensa luz. Seus raios faiscavam no firmamento, enquanto as bombas eram arremessadas ao solo.
Alfredo (que relatou o caso a André Luiz) e seus companheiros desceram ao ponto luminoso e verificaram, então, com surpresa, que ele partia de uma igreja, cujo recinto, apesar de quase sombrio para o olhar humano, apresentava-se altamente luminoso para os olhos espirituais.
Alguns cristãos corajosos reuniam-se ali e cantavam hinos. O ministrante do culto havia lido a passagem dos Atos em que Paulo e Silas cantavam à meia-noite na prisão, e as vozes cristalinas elevavam-se ao Céu, em notas de fervorosa confiança, de modo que, enquanto as bombas explodiam lá fora, os cristãos cantavam, unidos, em celestial vibração de fé viva.
O chefe da equipe espiritual mandou, então, que Alfredo e seus companheiros se conservassem de pé diante daquelas almas heroicas, em sinal de respeito e reconhecimento, afirmando "que os políticos construiriam os abrigos antiaéreos, mas os cristãos edificariam na Terra os abrigos antitrevosos". (Os Mensageiros, cap. 18, pp. 101 e 102)
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