A fé que vem dos lábios - Vânia Pauletti
“Há aqueles que se bastam com o grão de mostarda e aqueles que necessitam do Cosmos. Há aqueles que creem sem saber e aqueles que sentem a necessidade de saber para poder crer.” (Bezerra de Menezes)
Nas ocasiões de crise espiritual, talvez seja a fé aquela qualidade mais intensamente examinada no âmago das criaturas. A fé necessita de uma base, base que é a Inteligência perfeita daquilo que se deve crer. E para crer, não basta ver, é preciso, sobretudo, compreender. A fé não se prescreve, não se impõe, mas se adquire. Assim, se conservamos os valores da confiança, estamos aptos a servir.
Nos embates íntimos, quando as nossas concepções e pontos de vista se entrechocam na própria alma, tremem as forças que nos estruturam o teto mental, e nem todos contam com energia suficiente para se garantirem na própria segurança. Por isso, onde encontrarmos irmãos caídos em descrença e desânimo, tenhamos compaixão deles. São companheiros que adoeceram de angústia, sob o impacto da renovação apressada imposta pela própria vida nos tempos de crise espiritual. Muitos deles gostariam de possuir a confiança e o otimismo que nos aquecem os sentimentos, mas cresceram no corpo físico sob reiteradas provações que lhes enrijeceram a alma, enquanto outros perderam a fé nascente que lhes soprava o espírito, porque as raízes foram colocadas nos solos rasos das afeições humanas, ao invés de implantá-las no amor e na justiça de Deus, como na Parábola do Semeador.
De qualquer modo, porém, todos nós, espíritos em evolução e resgate no planeta terrestre, somos seres endividados perante as leis divinas, criaturas em via de reajuste, nas mãos uns dos outros em constantes permutas. A única diferença é a de que nós, os que já retemos os benefícios da fé somos enfermos conscientes quanto às mazelas que nos são próprias, buscando recursos para saná-las, e os nossos irmãos ainda sem fé são enfermos que, no tempo devido, serão encaminhados ao serviço de cura. Estendamos-lhes os braços amigos a fim de que se refaçam. E mesmo que recusem o apoio fraterno, abençoemos cada um deles, e continuemos adiante nas tarefas que a existência nos deu.
Todos nós encontraremos remédio adequado na farmácia do tempo, utilizando os elementos necessários que nos foram entregues para a realização das nossas tarefas nas boas obras. Antes, buscávamos a ideia de fazer o bem porque desta forma teríamos o bem como retorno à nossa existência. Ajudar o próximo, praticar a solidariedade, a indulgência, perdoar as ofensas e as agressões eram moedas de troca com as quais compraríamos o nosso bem estar definitivo para o futuro, uma espécie de investimento que nos afastaria do inferno e nos garantiria a entrada no céu.
Com o advento do Espiritismo, a humanidade passou a enxergar o trabalho no bem, não como uma forma de conquistar a paz eterna através de barganhas, e, sim, fazer por prazer sem visar recompensa por troca, pois os Espíritos nos ensinaram que proceder no bem é antes de tudo uma atitude inteligente em prol de nós mesmos na busca da felicidade que almejamos.
Com a máxima “fora da caridade não há salvação” a doutrina veio difundir por toda a Terra a mensagem já existente de Jesus quando afirmou que só receberemos as benesses divinas se atendermos ao Seu convite de amor ao próximo.
O Livro dos Médiuns, capítulo XXXI, afirma textualmente: “Mas, lembrai-vos bem de que o Cristo renega, como seu discípulo, todo aquele que só nos lábios tem a caridade. Não basta crer; é preciso, sobretudo, dar exemplos de bondade, de tolerância, de desinteresse, sem o que estéril será nossa fé."
A nossa caminhada até os dias atuais foi percorrida de maneira irregular, com altos e baixos, por descuido nosso, por falta de vigilância. Tudo que hoje realizamos no sentido de buscar a harmonia interior não significa construção nossa em favor da vida ou do nosso semelhante, se não entendermos essa atual reencarnação como sendo mais uma oportunidade de nos harmonizarmos perante as leis imutáveis de Deus.
“Uma única ambição nos anima: gostaríamos, de quando nosso envoltório usado retornar à terra, que nosso espírito imortal possa dizer: Minha passagem neste mundo não terá sido estéril, se contribui para acalmar uma dor, esclarecer uma inteligência em busca do verdadeiro, reconfortar uma única alma vacilante e entristecida”, conforme assevera Léon Denis, no livro Depois da Morte.
O benfeitor espiritual André Luiz afirma no livro Agenda Cristã, lição 45 que todas as verdades se encontram no Cristianismo; são de origem humana os erros que nele se enraizaram. Prossegue alertando: “O cristão é chamado a servir em toda parte: na casa do sofrimento, ministrará consolação; na furna da ignorância, fará esclarecimento; no despenhadeiro do crime, sustará quedas; no carro do abuso, exemplificará sobriedade; na toca das trevas, acenderá luz; no nevoeiro do desalento, abrirá portas ao bom ânimo, no inferno do ódio, multiplicará bênçãos de amor; na praça da maldade, dispensará o bem; no palácio da justiça, colocar-se-á no lugar do réu, a fim de examinar os erros dos outros.”
É indispensável, portanto, que a criatura persevere nas obras edificadas no bem. O bem verdadeiro será sempre aquele que dirigirmos ao outro, pois diariamente, são ofertados pelo Pai os recursos necessários e as oportunidades para cumprirmos a Lei de Amor, Justiça e Caridade a qual consolida toda a Lei Divina do Criador.
Bibliografia:
XAVIER, F. C. Seara dos Médiuns, ditado pelo Espírito Emmanuel – 13ª edição, FEB – BRASILIA/ DF - lição 24 – 1961.
XAVIER, F. C. Livro da Esperança, ditado pelo Espírito Emmanuel – 15ª edição - Edições CEC – 1998.
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