Quimeras e essência - Rogério Coelho

Tão absorta está a humanidade com as “coisas de César” que se conserva indiferente às “coisas de Deus”

“Marta, Marta!... Estais ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas só uma é necessária.” Jesus.  (Lc., 10:41/42.)

Muitas gente sorrindo com os “superiores” ares do deboche, incrédulas, rejeitam como quimeras muitas das parábolas de Jesus; na verdade, tais criaturas são baldas de sensibilidade espiritual para assimilar-lhes a essência, não conseguem entendê-las.

Dentre elas a que provoca maior incredulidade e sarcasmos é a “Parábola do Festim das Bodas”. Ciosos de sua “inteligência” nutrida por superlativa vaidade intelectual, esses pseudossábios só têm sorrisos de mofa para as coisas que lhes escapam à compreensão. Em sua obtusidade não conseguem entender o verdadeiro significado das parábolas, julgam-nas superficialmente acoimando-as de inverossímeis.

Analisando a reação desses infelizes, Allan Kardec diz que eles não compreendem que se possa opor tanta dificuldade para assistir a um festim e, ainda menos, que convidados levem a resistência a ponto de massacrarem os enviados do dono da casa.

Jesus compunha Suas parábolas com os elementos conhecidos da vida daqueles tempos; assim, as palavras: seara, grãos, semeadura, campos, semeador, ovelhas, árvores etc. são comuns em Suas lições.

As parábolas eram compostas obedecendo ao costume oriental de narrativas, tendo por objetivo fazer penetrar nas massas populares a ideia da vida espiritual.  E também havia outro motivo importantíssimo para essa maneira de ensino: Jesus sabia o que os homens fariam no futuro, com os Seus ensinamentos, por isso a essência deles deveria ficar protegida por uma cápsula que só seria aberta com a “chave” prometida para mais tarde: O Consolador.  Portanto, se hoje nós temos em Jesus a “Porta”, temos em Kardec a “Chave”.   As parábolas funcionam como cápsulas de proteção para que a essência dos Seus ensinos pudesse manter a sua integridade.

Na Parábola do Festim das Bodas, Ele compara o Reino dos Céus a um festim.   Os hebreus que foram os primeiros convidados se escusaram pretextando terem de cuidar das coisas pelas quais estavam “ansiosos e afadigados”, isto é, os interesses puramente materiais. Tão absortos estavam com as “coisas de César” que se conservavam indiferentes às “coisas de Deus”.

Entendemos com Kardec que não se pode acusar de descaso a todo o povo hebreu. Seria injusto fazê-lo, pois os que mais se destacaram na rejeição aos alvitres do Mais Alto foram os fariseus e os saduceus.

Os Benfeitores Espirituais observando o caráter refratário desse povo, resolveram, então, com o concurso de alguns encarnados decididos (aí incluído Paulo de Tarso), levar a Boa-Nova aos gentios: “o Senhor mandou convidar a todos os que fossem encontrados nas encruzilhadas, bons e maus”.

Entendemos assim que - embora imperfeitos - fomos convidados a nos tornarmos Espíritas; portanto, chamados já fomos.

Perguntamos agora: pelo nosso trabalho na Seara de Jesus, podemos afirmar com tranquilidade e certeza que seremos “escolhidos”?

Afinal estamos “ansiosos e afadigados” pelas quimeras ou escolhemos a essência, a “parte boa”, que nunca nos será tirada?



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