Francisco Raimundo Ewerton Quadros

Entre os trabalhadores da primeira hora, no movimento espírita do Brasil, o marechal Francisco Raimundo Ewerton Quadros ocupa lugar de justificada saliência, em virtude da valiosa colaboração que prestou à ingente obra de disseminação e explanação da doutrina codificada por Allan Kardec.

Homem de grande envergadura moral, possuidor de sólida e generalizada cultura, doutor em engenharia e figura de prestígio na sociedade e no Exército Nacional, tendo sucedido ao General Franklin do Rego Cavalcanti de Albuquerque Barros na presidência do Clube Militar, exatamente no governo de Prudente de Morais, o marechal Ewerton Quadros, não obstante tudo isso, não se deixou fascinar pelas ambições da vida material.

Espírito ativo e familiarizado com estudos profundos, escreveu numerosos trabalhos de cunho filosófico, os quais constituem inequívoco atestado do seu valor intelectual. De costumes austeros, mas de visão larga, não tardou fosse atraído pelo Espiritismo, dele se tornando, desde 1872, dos mais probos e autorizados propagandistas, pelo verbo e pela pena, ajudado pelas várias mediunidades que possuía, principalmente a da vidência, a que maior força imprimiam suas já alicerçadas convicções doutrinárias. Ele mesmo, através das páginas de «Reformador», contou uma série de notabilíssimos fenômenos devidos aos seus dons mediúnicos, os quais nele se manifestaram desde a idade de oito anos.

Em março de 1873 desenvolveu-se lhe a psicografia, e, em pouco tempo, começou a produzir trabalhos admiráveis. Experimentando sua nova faculdade mediúnica, no sentido de comprovar a não participação do seu próprio Espírito nas comunicações, obteve, certa vez, que um Espírito evocado por um seu amigo se manifestasse, a este respondendo a perguntas mentais, sobre História. Ao ser criada a Federação Espírita Brasileira, foi ele eleito seu primeiro Presidente, cargo que ocupou até 1888, quando cedeu o posto ao Dr. Bezerra de Menezes, cujo nome havia sido sufragado para esse fim.

Francisco Raimundo Ewerton Quadros mostrou-se à altura de sua missão. Cultivou sempre com acendrado carinho as virtudes cristãs, servindo ao Espiritismo e à Federação Espírita Brasileira com a superioridade e firmeza dos verdadeiros crentes. Foi legítimo semeador das verdades evangélicas, pregando-as pelo exemplo constante e pela palavra. Jamais ocultou, a quem quer que fosse, suas convicções. Serviu à fé espírita com ilimitado devotamento, deixando, ao retomar a vida espiritual, o testemunho seguro do trabalhador que bem cumpriu seus deveres, como sói acontecer com todos aqueles que se propõem seguir a consoladora doutrina do Cristo.

Ewerton Quadros nasceu na capital do Maranhão em 17 de outubro de 1841, e faleceu no Rio de Janeiro em 20 de novembro de 1919. Seu pai, capitão honorário Ewerton Quadros, desencarnado no referido Estado do norte brasileiro, em 1874, criou outros filhos, entre eles um futuro oficial da Armada, morto em Montevidéu. Fez na terra natal, com o maior brilhantismo, o seu curso de humanidades e, em princípios de 1860, rumou para o Rio. Aí, mal saído da Escola Militar, em 1864, como alferes-aluno adido ao 1º Batalhão de Artilharia, seguiu a reunir-se às forças invasoras da República Oriental, o que lhe valeu uma medalha.

Formou-se em Engenharia pela Escola Central (atual E. Politécnica), recebeu o grau de Bacharel em Ciências Físicas e Matemáticas e foi trabalhar no Rio Grande do Sul, onde sua operosidade construtiva se estendeu a mais de uma dezena de cidades, membro que era da Comissão de Engenharia Militar naquele estado. Espírita desde 1872, conforme já foi dito, logo começou a colaborar na propaganda da Doutrina Espírita, tendo sido um dos fundadores, em 7 de junho de 1881, do Grupo Espírita Humildade e Fraternidade, no Rio.

Este Grupo, desdobramento do Grupo Espírita Fraternidade, que se instalara em 21 de março de 1880, compunha-se de «algumas pessoas ilustradas que se consagravam ao estudo sério da doutrina espírita».

Seus primeiros escritos espíritas foram publicados na «Revista da Sociedade Acadêmica Deus, Cristo e Caridade», periódico fundado em janeiro de 1881 e segundo órgão espírita surgido no Rio de Janeiro. O primeiro trabalho de Ewerton Quadros ali apareceu nos meses de agosto e setembro de 1881. Era um erudito estudo sobre «O Magnetismo na Criação». Seguiu-se a este, em fevereiro de 1882, bela poesia de sua autoria, em dezesseis estrofes de quatro versos, intitulada «O Redivivo». E em seu número de julho de 1882 a referida Revista estampava primorosa e edificante página poética recebida, através da mediunidade de Ewerton Quadros, em 18 de junho de 1880. Intitulava-se «Morrer e deixar a ilusão pela verdade», e fora assinada com as iniciais A. A.

Participou ativamente da fundação da Federação Espírita Brasileira, sendo eleito seu primeiro presidente (1884-1888). Nesse tempo era ele Major do Estado Maior de Artilharia do Exército. Em 1888, deu à FEB uma sede independente, pois que até então ela funcionara em uma residência de um que outro confrade.

Colaborou no «Reformador» e em outros órgãos da imprensa espírita até os derradeiros meses de sua vida terrena. Alguns meses antes de falecer, doou à FEB, da que era presidente honorário desde 1891, muitos exemplares do seu livro «Os Astros», para com o produto de sua venda socorrer os pobres da Assistência aos Necessitados.

Possuía Ewerton Quadros incontestável cultura e vasta erudição, sendo amplos seus conhecimentos de Astronomia, História Natural e História Universal. Seus artigos em prosa eram às vezes assinados com o pseudônimo Freq. Revelou-se igualmente como poeta, publicando de vez em quando suas produções nos periódicos espíritas. Deixou em numerosos escritos e em várias obras o fruto de suas meditações iluminadas pelo Espiritismo.

São de sua lavra: «História dos Povos da Antiguidade», escrita sob o ponto de vista espírita, até à vinda do Messias; «Os Astros», estudos da Criação; Conferência sobre «O Espiritismo», seu lugar na classificação das ciências; «As Manifestações do Sentimento Religioso Através dos Tempos»; «Catecismo Espírita», dedicado às meninas.

Traduziu muitos artigos, bem como obras dos idiomas francês e inglês, sobressaindo entre estas últimas «O Fenômeno Espírita», de Gabriel Delanne; «Bases Cientificas do Espiritismo», de Epes Sargent; «Região em litígio entre este mundo e o outro», de Roberto Dale Owen.  Participou das conferências escolares que em fins do século passado se realizavam anualmente no Liceu de S. Cristóvão. Discorria, então, para os alunos, sobre assuntos ligados à Astronomia. Em 1889 foi comissionado pelo governo central nos sertões de Goiás, motivo pelo qual não foi reeleito para a presidência da FEB. E, depois disso, andou por várias regiões brasileiras, em comissões cientificas e militares, tendo trabalhado, por exemplo, junto à comissão militar (que também chefiou) encarregada da linha telegráfica entre Uberaba e Cuiabá, cujos trabalhos de observação e exploração ele publicou numa memória, que terminava com um vocabulário comparado do português com as línguas indígenas: guarani, caiuá, coroado e xavante.

Por volta de 1908 dirigiu, com outros diretores, a «Liga de Propaganda das Ciências Psicofísicas», entidade que se ocupava de todos os fenômenos regidos por forças supranormais. Além da notável cultura filosófica e científica que demonstrou possuir, era ele senhor de riqueza bem maior e mais apreciável – a do coração, a dos sentimentos cristãos. Suportou, sereno e resignado, todos os golpes da calúnia, da intriga e do sarcasmo com que tentaram empanar-lhe o brilho de sua trajetória terrena.

A causa do Espiritismo no Brasil teve nele uma das mais fortes colunas. Com sua pena culta, com sua palavra esclarecida e autorizada, com seu exemplo de cidadão reto e honrado, e com os fatos que soube provocar, foi um dos maiores propagandistas no Brasil a serviço da Doutrina Espírita.

Fonte: WANTUIL, Zêus (Org.), Grandes Espíritas do Brasil.



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