Fora da reencarnação não há justiça divina - Jorge L. de Oliveira

Sobre a reencarnação já foram escritos diversos livros. Na Bíblia, tanto no antigo quanto no novo testamento há diversas passagens sobre o tema, que não cabem no espaço duma crônica ou mesmo dum artigo. O assunto é vasto. Somente n'O Livro dos Espíritos há 86 subtemas relacionados ao tema (descritores do tema relacionados no índice dessa obra).

Começarei pela citação de parte dos comentários de duas perguntas dessa obra: a 171 e a 222. Na questão 171, após a informação do Espírito de Verdade de que a reencarnação tem por base a justiça de Deus e a revelação, Kardec faz alguns comentários. Nos dois últimos parágrafos, explica, primeiro, que a "doutrina da reencarnação", que nos faz retornar a "muitas existências sucessivas", é a única que nos satisfaz à ideia que podemos ter da "Justiça de Deus". Ele termina com este parágrafo, a meu ver, de brilhante conclusão, ao menos para quem acredita na preexistência da alma e na continuidade da vida após a morte:

O homem que tem consciência da sua inferioridade haure na doutrina da reencarnação uma esperança consoladora. Se crê na Justiça de Deus, não pode esperar que venha a achar-se, por toda a eternidade, em pé de igualdade com os que agiram melhor do que ele.  A ideia de que aquela inferioridade não o deserdará para sempre do supremo bem, e que poderá conquistá-lo mediante novos esforços, o sustenta e lhe reanima a coragem. Quem é que, no final da sua carreira, não lamenta ter adquirido tarde demais uma experiência de que já não pode aproveitar? Essa experiência tardia não fica perdida; ele a aproveitará numa nova existência.1  

Na questão 222, Kardec faz considerações em dez páginas sobre a reencarnação, inclusive com a citação de passagens bíblicas em que se leem informações sobre o assunto. Ele, a quem Camille Flammarion chamou de "o bom senso encarnado", explica que, a princípio, estranhou a resposta obtida, pois achava que a continuação da vida de cada um de nós seria no plano espiritual; entretanto, após a insistência das informações, obtidas por vários médiuns, acabou por se convencer de que a equanimidade da justiça divina não poderia agir com cada uma de suas criaturas sem levar em conta os méritos individuais. Por isso mesmo, lemos no Evangelho de Jesus, anotado por Mateus, 16:27 (Bíblia de Jerusalém), a seguinte frase: "a cada um segundo seu comportamento".

Na obra Caminho, Verdade e Vida, psicografada por Chico Xavier, o Espírito Emmanuel faz um comentário estupendo do versículo encontrado em João, 3:7, em que Jesus diz a Nicodemos: "Não te maravilhes de te haver dito: Necessário te é nascer de novo".

Sem a reencarnação, explica Emmanuel, "a existência humana representaria turbilhão de desordem e injustiça; à luz de seus esclarecimentos, entendemos todos os fenômenos dolorosos do caminho". E, abaixo, continua:

O homem ainda não percebeu toda a extensão da misericórdia divina, nos processos de resgate e reajustamento. Entre os homens, o criminoso é enviado a penas cruéis, seja pela condenação à morte ou aos sofrimentos prolongados. A Providência, todavia, corrige amando... Não encaminha os réus a prisões infectas e úmidas. Determina somente que os comparsas de dramas nefastos troquem a vestimenta carnal e voltem ao palco da atividade humana, de modo a se redimirem, uns à frente dos outros (EMMANUEL, 2012, cap. 110).2

Por fim, diz o então mentor espiritual de Chico Xavier que tanto o algoz quanto a vítima desconhecem seu passado espiritual, mas Deus "[...] identifica as necessidades de seus filhos e reúne-os, periodicamente, pelos laços de sangue ou na rede dos compromissos edificantes, a fim de que aprendam a lei do amor, entre as dificuldades e as dores do destino, com a bênção de temporário esquecimento" (id. ibid.). 

Também n'O Evangelho Segundo o Espiritismo, capítulo 11, item 8 de Instruções dos Espíritos, subtítulo A lei do amor, lemos esta frase do Espírito Lázaro:

O Espiritismo, por sua vez, vem pronunciar uma segunda palavra do alfabeto divino. Ficai atentos, pois essa palavra ergue a lápide dos túmulos vazios, e a reencarnação, triunfando da morte, revela às criaturas deslumbradas o seu patrimônio intelectual. Já não é ao suplício que ela conduz os homens, mas à conquista do seu ser, elevado e transfigurado. O sangue resgatou o Espírito e hoje o Espírito tem que resgatar o homem da matéria (KARDEC, op. cit., loc. cit.).3

A leitora e o leitor amigos podem ler as narrativas desses dramas reais do Espírito não somente nas obras do Espírito André Luiz, psicografadas por Chico Xavier, como também nas do Espírito Manoel Philomeno de Miranda, da psicografia de Divaldo Franco. Este último lançou, há poucos dias, uma obra que explica o que acontece, atualmente, no mundo, em função da pandemia que vivemos, intitulada No rumo do mundo de regeneração.

O dogma da reencarnação é milenar; os Espíritos encarregados por Jesus de torná-lo claro, nas obras de Allan Kardec, vêm simplesmente confirmar o contido no título desta crônica: "Fora da reencarnação, não há justiça divina".

Referências:

1KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 4. ed. 4. imp. Brasília: FEB, 2017.

2EMMANUEL (Espírito). Caminho, Verdade e Vida (psicografado por Chico Xavier). 1. ed. 3. reimp. Brasília: FEB, 2012.

3KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Tradução de Evandro Noleto Bezerra. 2. ed. 5. imp. Brasília: FEB, 2018.



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