Espiritismo, alavanca do progresso e da regeneração

A paz deve ser costurada com os fios da persuasão, do amor e da compreensão

“Quando todos os homens compreenderem o Espiritismo, compreenderão  também  a verdadeira solidariedade  e consequentemente, a verdadeira fraternidade.” - Allan Kardec


Tratando das questões e dos problemas que envolvem as expiações coletivas, o insuperável Mestre Lionês nos mostra de maneira clara e insofismável, o papel emancipador e regenerador do Espiritismo, papel este que fará com que a humanidade se dirija, pelo inevitável progresso que faculta, ao estuário da sabedoria, da paz e da verdadeira fraternidade...

Nos conflitos que se verificam entre os povos de várias nações tais como os existentes no Oriente Médio, entre judeus e árabes em geral e particularmente com os palestinos, (paradoxalmente nas terras onde viveu Jesus), ou os existentes entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte, ou em outros grupos intestinos como os Zapatistas no México, entre tribos africanas, ou os guerrilheiros na Colômbia, etc..., podemos observar que cada um desses litigantes deseja impor o seu “modus vivendi”, sua filosofia de vida, sua condição, submetendo ao seu talante os grupos rivais.

Mas o caminho da paz não se conquista assim!  Ela deve ser alinhavada e costurada com os fios da persuasão, do amor, da compreensão, do respeito mútuo das individualidades e suas idiossincrasias, sem imposições humilhantes e sem criação de aristocracias de privilegiados. A paz só poderá reinar onde todas as criaturas, de todos os credos, de todas as raças possam ter proclamados e respeitados os seus direitos e a liberdade de consciência e de expressão, onde todos possam manter preservadas as características de suas etnias e tradições em clima de recíproco respeito.

Quem matar pela espada, pela espada perecerá

Não falece dúvida de que se o Espiritismo já tivesse atingido o patamar de destaque que merece no mundo, e se a humanidade o estivesse praticando efetivamente, os focos de beligerância já estariam extintos há muito, e milhões de criaturas não teriam passado pelo fio da espada em cruentas circunstâncias. Digo praticado, porque não basta ser o Espiritismo apenas entendido teoricamente sem a consequente aplicação.

Segundo Kardec, quando Jesus proclamou que “pela espada seria ferido aquele que com ela ferisse”, Ele quis dizer o seguinte: “aquele que fez correr sangue verá o seu também derramado; aquele que levou o facho do incêndio ao que era de outrem verá o incêndio ateado no que lhe pertence; aquele que despojou será despojado; aquele que escraviza e maltrata o fraco será a seu turno escravizado e maltratado, quer se trate de um indivíduo, quer de uma nação, ou de uma raça, porque os membros de uma individualidade coletiva são solidários assim no bem como no mal que em comum praticaram.

Ao passo que o Espiritismo dilata o campo da solidariedade, o materialismo o restringe às mesquinhas proporções da efêmera existência do homem, fazendo da mesma solidariedade um dever social sem raízes, sem outra sanção além da boa-vontade e do interesse pessoal do momento. É uma simples máxima filosófica, cuja prática nada há que a imponha. Para o Espiritismo, a solidariedade é um fato que assenta numa lei universal da Natureza, que liga todos os seres do passado, do presente e do futuro e a cujas consequências ninguém pode subtrair-se. É esta uma coisa que todo homem pode compreender, por menos instruído que seja.

Quando todos os homens compreenderem o Espiritismo, compreenderão também a verdadeira solidariedade e, conseguintemente, a verdadeira fraternidade. Uma e outra então deixarão de ser simples deveres circunstanciais, que cada um prega as mais das vezes no seu próprio interesse e não no de outrem.  O reinado da solidariedade e da fraternidade será forçosamente o da justiça para todos e o da justiça será o da paz e da harmonia entre os indivíduos, as famílias, os povos e as raças.  Virá esse reinado?  Duvidar do seu advento seria negar o progresso!

Se compararmos a sociedade atual, nas nações civilizadas, com o que era na Idade Média, reconheceremos grande a diferença. Ora, se os homens avançaram até aqui, por que haveriam de parar? Observando-se o percurso que eles hão feito apenas de um século para cá, poder-se-á avaliar o que farão daqui a mais outro século.

As convulsões sociais são revoltas dos Espíritos encarnados contra o mal que os acicata, índice de suas aspirações e esse reino de justiça pelo qual anseiam, sem, todavia, se aperceberem claramente do que querem e dos meios de consegui-lo. Por isso é que se movimentam, agitam, tudo subvertem a torto e a direito, criam sistemas, propõem remédios mais ou menos utópicos, cometem mesmo injustiças sem conta, por espírito, ao que dizem, de justiça, esperando que desse movimento saia, porventura, alguma coisa. Mais tarde, definirão melhor suas aspirações e o caminho se lhes aclarará...

Quem quer que desça ao âmago dos princípios do Espiritismo filosófico, que considere os horizontes que ele desvenda, as ideias a que dá origem e os sentimentos que desenvolve, não duvidará da parte preponderante que há de ter na regeneração, pois que, precisamente e pela força das coisas, ele conduz ao objetivo a que a humanidade aspira:  ao reino da justiça, pela extinção dos abusos que lhe hão obstado ao progresso e pela moralização das massas.  Se os que sonham com a restauração do passado não entendessem assim, não se aferrariam tanto a esse sonho; deixá-lo-iam morrer tranquilamente, como há sucedido a muitas utopias.  Isto, por si só, deverá dar o que pensar a certos zombadores, fazendo-os ponderar que talvez haja aí alguma coisa mais séria do que imaginam.  

Qualquer que seja a influência que um dia o Espiritismo chegue a exercer sobre as sociedades, não se suponha que ele venha a substituir uma aristocracia por outra, nem a impor leis; primeiramente, porque, proclamando o direito absoluto à liberdade de consciência e do livre exame em matéria de fé, quer como crença ser livremente aceito por convicção e não por meio de constrangimento.  Pela sua natureza, não pode, nem deve exercer nenhuma pressão.  Proscrevendo a fé cega, quer ser compreendido.

Para ele, absolutamente não há mistérios, mas uma fé racional, que se baseia em fatos e que deseja a luz.  Não repudia nenhuma descoberta da Ciência, dado que a Ciência é a coletânea das leis da Natureza e que, sendo de Deus essas leis, repudiar a Ciência fora repudiar a obra de Deus.

Em segundo lugar, estando a ação do Espiritismo no seu poder moralizador, não pode ele assumir nenhuma forma autocrática, porque então faria o que condena. Sua influência será preponderante, pelas modificações que trará às ideias, às opiniões, aos caracteres, aos costumes dos homens e às relações sociais.  E maior será essa influência, pela circunstância de não ser imposta.  Forte como filosofia, o Espiritismo só teria que perder, neste século de raciocínio, se se transformasse em poder temporal. Não será ele, portanto, que fará as Instituições do mundo regenerado; os homens é que as farão, sob o império das ideias de justiça, de Caridade, de fraternidade e de solidariedade, mais bem compreendidas, graças ao Espiritismo.

Essencialmente positivo em suas crenças, ele repele todo misticismo. Induz, é certo, os homens a se ocuparem seriamente com a vida espiritual, mas porque essa é a vida normal, sendo nela que se têm de cumprir os nossos destinos, pois que a vida terrestre é transitória.   Pelas provas que apresenta da realidade da vida espiritual, ensina aos homens a não atribuírem mais que relativa importância às coisas deste mundo, dando-lhes assim força e coragem para suportar com paciência as vicissitudes e percalços terrenos. Ensina-lhes que, morrendo, não deixam para sempre este mundo; que podem a ele voltar, a fim de aperfeiçoarem sua educação intelectual e moral, a menos que já estejam bastante adiantados para merecerem passar a um mundo melhor; que os trabalhos e progressos que realizem, ou para cuja realização contribuam, lhes aproveitarão, concorrendo para que melhorada se lhes torne a posição futura.   Mostra-lhes dessa forma que é de todo o interesse deles não o desprezarem.   Se lhes repugna voltar aqui, uma vez que possuem o livre-arbítrio, deles depende o fazerem o que é necessário a se tornarem habitantes de outros orbes; mas, que não se iludam sobre as condições que devem preencher para merecerem uma mudança de residência! E não será por meio de algumas fórmulas, expressas em palavras ou atos, que o conseguirão, sim por efeito de uma reforma séria e radical de suas imperfeições, modificando-se, despojando-se das paixões más, adquirindo dia a dia novas qualidades, ensinando a todos, pelo exemplo, a linha de proceder que levará solidariamente todos os homens à ventura, pela fraternidade, pela tolerância, pelo amor”.



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