Conflitos degenerativos da sociedade

A crise de credibilidade, de confiança, de amor instaura o estado conflitivo da personalidade que perde o roteiro, incapaz de definir o que é correto ou não, qual a forma de comportamento mais compatível com a época e, ao mesmo tempo, favorável ao seu bem-estar, anquilosando pessoas refratárias ao progresso nas ideias superadas ou produzindo grupos rebeldes fadados à destruição, que se entregam à desordem, à contracultura, buscando sempre chocar, agredir.

Os grupos opostos se afastam, se armam e se agridem.

O homem ainda não aprendeu a ser solidário quando não concorda, preferindo ser solitário, ser opositor.

Certamente, a renovação é lei da vida. A poda faculta o ressurgimento do vegetal. O fogo purifica os metais, permitindo-lhes a moldagem. A argila submete-se ao oleiro.

A vida social é resultado das alterações sofridas pelo homem, seu elemento essencial. É necessário, portanto, que se dê a transformação, a evolução dos conceitos, o engrandecimento dos valores. Para tal fim, às vezes, é preciso que ocorra a demolição das estratificações, do arcaico, do ultrapassado. Lamentavelmente, porém, nesta ação demolidora, a revolta contra o passado, pretendendo apagar os vestígios do antigo, vai-lhe até as raízes, buscando extirpá-las.

O homem e a sociedade, sem raízes não sobrevivem.

No começo, o paganismo greco-romano era uma bela doutrina, rica de símbolos e significados, caracterizando o processo psicológico da evolução histórica do homem. O abuso, mais tarde, fê-lo degenerar e a Doutrina cristã se apresentou na forma de um corretivo eficaz, oportuno. A dosagem exagerada, porém, terminou por causar danos inesperados, no largo período da noite medieval, da qual algumas religiões contemporâneas ainda padecem os efeitos negativos.

O mesmo vem acontecendo com a sociedade que, para livrar-se das teias da hipocrisia, da hediondez, dos preconceitos, da vilania, da prepotência, elaborou os códigos da liberdade, da igualdade, da fraternidade, em lutas sangrentas, ainda não considerados além das formulações teóricas e referências bombásticas, sem repercussão real no organismo das comunidades humanas em sofrimento.

As recentes reações culturais contra a autenticidade da conduta têm produzido mais males que resultados positivos. Em nome da evolução, sucedem-se as revoluções destrutivas que não oferecem nada capaz de preencher os espaços vazios que causam.

A insatisfação do indivíduo fustiga e perturba o grupo no qual ele se localiza, sendo expulso pela reação geral ou tornando-se um câncer em processo metastático. Facilmente o pessimista e o colérico contaminam os desalentos, passando-lhes o morbo do desânimo ou o fogo da irritação, a prejuízo geral.

Armam-se querelas desnecessárias, altera-se a filosofia dos partidos existentes, que se transferem para a agressividade, as acusações descabidas, sem trabalho à vista para a retificação dos erros, a reabilitação moral dos caídos, para o bem-estar coletivo. Cada pequeno grupo dentro do grupo maior, sem consenso, busca atrapalhar a ação do adversário, mesmo quando benéfica, porque deseja demonstrar-lhe a falência, movido pelos interesses personalistas, em detrimento do processo de estabilidade e crescimento de todos. O personalismo se agiganta, as paixões servis se revelam, o idealismo cede lugar à vileza moral.

A predominância do egoísmo em a natureza humana faz-se responsável pelo caos em volta, no qual os conflitos degenerativos da sociedade campeiam. Surgem as plataformas frágeis em favor do grupo desde que sob o comando e a alternativa única do ególatra, que alicia outros semelhantes, que se lhe acercam, igualmente ansiosos por sucessos que não merecem, mas que pleiteiam. Inseguros, incapazes de competir a céu aberto, honestamente, aguardam na furna da própria pequenez, por motivos verdadeiros ou não, para incendiarem o campo de ação alheia, longe dos objetivos nobres, porém reflexos dos seus estados íntimos conflituosos.

Não se tornam adversários leais, porque a inveja, antes, os fizera inimigos ocultos que aguardavam ensejo para desvelarem-se. Face às distonias pessoais de que são portadores, decantam a necessidade do progresso da sociedade e bloqueiam-no com a astúcia, a desarticulação de programas eficientes, antes de testados, atacando-os vilmente e aos seus portadores, a quem ferem pessoalmente, pela total impossibilidade de permanecerem no campo ideológico, já que não possuem idealismo. Estimulam a dissensão, porque os seus conflitos não os auxiliam a cooperar, entretanto, os motivam a competir. Não podem trabalhar a favor, porque os seus estímulos somente funcionam quando se opõem. Em razão da insegurança pessoal desconfiam dos sentimentos alheios e provocam distúrbios que se originam em suspeitas injustificáveis, a soldo do prazer mórbido que os assinala.

O conflito íntimo é matriz cancerígena no organismo humano em constante ameaça ao grupo social.

Cabe ao homem em conflito revestir-se de coragem, resolvendo-se pelo trabalho de identificação das possibilidades que dispõe, ora soterradas nos porões da personalidade assustada. Sentindo-se incapaz de enfrentar-se, a busca de alguém capacitado a apontar-lhe o rumo e ajudá-lo a percorrê-lo é tão urgente quão indispensável. Inúmeras terapias estão ao seu alcance, entre os técnicos da área especializada, assim como as da Psicologia Transpessoal apresentando-lhe a intercorrência de fatores paranormais e da Psicologia Espírita, aclarando-o com as luzes difluentes dos fenômenos obsessivos geradores dos problemas degenerativos no indivíduo e na sociedade.

O conglomerado social, por sua vez, tem o dever de auxiliar o homem em conflito, de ajudá-lo a administrar as suas fobias, ansiedades, traumas, e mesmo o de socorrê-lo nas expressões avançadas quando padecendo psicopatologias diversas, em ética de sobrevivência do grupo, pois que, do contrário, através do alijamento de cada membro, quando vier a ocorrência se desarticulará o mecanismo de sustentação da grei.

A sociedade deve responder pelos elementos que a constituem, pelos conflitos que produz, assim como assume as glórias e conquistas dos felizardos que a compõem.

Os conflitos degenerativos da sociedade tendem a desaparecer, especialmente quando o homem, em se encontrando consigo mesmo, harmonize o seu cosmo individual (micro), colaborando para o equilíbrio do universo social (macro), no qual se movimenta.

Do livro O Homem Integral, Quarta Parte, cap. 15, de Joanna de Ângelis, psicografado pelo médium Divaldo Franco.



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