Presença do amor

“O amor é um sacrifício. Deus hauriu nele a vida, para dá-la às almas. Ao mesmo tempo que a efusão vital, elas receberiam o princípio afetivo destinado a germinar e expandir-se pela provação dos séculos, até que tenham aprendido a dar-se por sua vez, isto é, a dedicar-se, a sacrificar-se pelas outras. Com esse sacrifício, em vez de se amesquinharem, mais se engrandecem, enobrecem e se aproximam do Foco Supremo” ...  (Léon Denis, em O Problema do Ser, do Destino e da Dor.)

Na longa trajetória evolutiva, através das reencarnações, o espírito tem transitado dos instintos ao amor, das sensações primárias ao sentimento puro. Sabemos que o amor é a essência divina e que para praticá-lo como Deus o quer, necessário que cheguemos a amar pouco a pouco e indistintamente a todos os nossos irmãos, como nos diz Fénelon, em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XI.

Temos visto tantos exemplos de amor, que nos emocionam! As obras espíritas psicografadas são recheadas desses quadros que nos levam às lágrimas. Resgates de espíritos endurecidos, por aqueles que os amando, não os esqueceram.

Um exemplo disso é o caso de Domênico, resgatado por Zenóbia, dirigente da casa transitória de Fabiano, que circula em resgate de espíritos sofredores em regiões umbralinas.

Há muitos séculos Zenóbia o estava tentando socorrer. Espírito muito endurecido, que havia servido ao poder entre os homens em sua religião e não a Jesus. Chegara o momento do resgate. Sua mãe de séculos atrás, Ernestina, que tanto o amava estava a postos para o momento oportuno. Vemos esse relato belíssimo, pelo espírito de André Luiz, no livro” Obreiros da Vida Eterna” psicografado por Francisco Cândido Xavier. Convidamos o leitor a lê-lo na íntegra.

Luciana, um espírito que acompanhava André, o instrutor Jerônimo, o padre Hipólito e Zenóbia, com seus auxiliares, telepaticamente viu todas as ações criminosas de Domênico e as foi relatando a ele, até que esse não mais suportou, chorando pelas culpas que sentia e reconhecendo seus erros. Nesse momento, atendendo ao chamamento silencioso, de Zenóbia, a quem Domênico não via, compareceu na reduzida assembleia, uma velhinha simpática, que abraçando Zenóbia, como se o fizesse a uma filha muito amada cumprimentou-os cortês e reconhecida.

Ajoelhou-se junto ao filho desventurado e orou. Domênico, que estava cego para eles, conseguiu enxergá-la.

- Mamãe! Mamãe!

Aquela criatura endurecida invocava sua mãe como se fosse desventurada criança afastada do lar.

Zenóbia , a quem ele não via, ajudou-o a refugiar-se no colo materno. Ernestina apertou-o de encontro ao peito, e pareceu a André Luiz que o infortunado sentia o contato maternal, como se houvera alcançado o repouso supremo.

Ernestina vai conversando com ele docemente, a acariciá-lo como a uma criança muito amada, até lhe vencer todas as resistências. André Luiz relata que numa cena que jamais lhe sairia da memória, Ernestina orou pausadamente, acompanhada por Domênico, que lhe repetia as palavras.

Ele se recordou então, de Zenóbia, a quem no passado muito amara. Sua mãe o lembrou do sacrifício dela, casando-se com outro, salvando a todos e mantendo- se resignada até o final. Ele reconheceu. A mãe o instou para que progredissem, até alcançarem Zenóbia. Nesse instante essa chorou. Domênico sentiu que as gotas quentes do pranto lhe caiam na face melancólica e perguntou à mãe quem chorava sobre ele. A mãe respondeu emocionada:

- Os anjos choram de júbilo nas regiões celestes quando um coração sofredor se levanta do abismo...

Esse é apenas um relato bem resumido de um quadro de amor vencendo as resistências do mal. Precisamos aprender. Só o amor vence todas as barreiras do mal!

Quantas histórias de amor assim, das quais nem temos ideia da existência? Milhares!

 Mães e pais no mundo, seres queridos que renunciaram a alturas sublimes por amor aos que ficaram atrasados na evolução! O amor não esquece! O amor é imortal! Reencarnam-se, submetendo-se aos sofrimentos do mundo, simplesmente por amor, para ajudarem aos seus queridos. Temos observado, ao longo de nossa existência, muitos quadros, que sob observação e conhecimento espírita, nos revelam lindas histórias. Mães, avós, pais, avôs, irmãos, amigos, muitos exemplos de dedicação e amor sublimado.

Não poderíamos deixar de citar nessas linhas a lembrança de Hugo e Dulce Gonçalves, o paizinho e a mãezinha do Lar Infantil Marília Barbosa, e, por que não dizer, de tantos amigos que passaram por seu caminho, em todo o norte do Paraná, e em tantos outros lugares do Brasil?

 Fundado em 29 de março de 1953, o Lar Infantil fará 69 anos. Hugo foi convidado por Luís Picinin e começou a administrar o Lar infantil nesse mesmo ano. Ficou até a morte, aos cem anos de idade. Por ali, passaram mais de 400 crianças, a quem muito amaram, de quem foram pais. Imaginamos, lá, no mundo espiritual, quando se compromissaram com essa tarefa, em nome de Jesus. Como teria sido?

Se vemos tanta emoção no resgate de Domênico, tanto amor, pensamos nesse casal que renunciou a si mesmo, com tanta abnegação, socorrendo e atendendo, amando as meninas que lhe foram confiadas e fazendo delas pessoas de bem.

O Centro Espírita Allan Kardec, fundado em 1941, fará 81 anos em 2 de março. De seu braço estendido surgiu o Lar Infantil Marília Barbosa. Ambos foram dirigidos por Hugo Gonçalves, até sua desencarnação, aos cem anos de idade. Dulce o acompanhou até desencarnar, alguns anos antes dele.

Com seu amor, fizeram centenas de amigos, que não os esquecem. Foram tocados pelo seu exemplo.

Até hoje as “meninas” do Lar infantil os reverenciam. Reúnem-se para lembrá-los e para viverem a fraternidade que aprenderam, convivendo como irmãs. Muitas já são avós. Há outras ainda jovens. Não esquecem o paizinho e a mãezinha. Seu amor as acompanha. A cidade de Cambé ainda os reverencia, Os amigos lhe sentem a presença. Muitos são visitados por eles em reuniões mediúnicas.

O Centro Espírita Allan Kardec e o Lar Infantil Marília Barbosa estão na ativa. O Centro não fechou as portas nem na pandemia, pois a prefeitura de Cambé, no auge das dores provocadas pela Covid, permitia assembleia com até 25 pessoas para orarem e se reunirem em suas religiões. O Centro se manteve de portas abertas para socorrer os aflitos que se lhe dirigem. Agora com nova diretoria, essa segue firme com Kardec e Jesus.

Permanece servindo a exemplo de Jesus e de seus amorosos dirigentes, hoje no mundo espiritual, ainda velando: Hugo e Dulce Gonçalves, a quem endereçamos a nossa gratidão e nosso carinho.



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