O Espiritismo e o Quakerismo

Em experimentações escolares, para nossas crianças “ver”, “sentir” o invisível, ou melhor, ver o resultado, o efeito da causa científica que não podem visualizar, isto é, a energia do ímã, ninguém vê, mas se vê o resultado deste campo magnético.  Para os escolares, o professor deixa sobre o solo do jardim interno das escolas, ou dentro de suas salas de aulas, um ímã se mover livremente. Como uma bússola, o imã irá se voltar para os lados Norte e Sul.  Por isso a orientação que a bússola nos dá é sempre indicando a direção Norte, porque sua agulha na explicação aos alunos, a agulha gira em torno de uma haste, um eixo e é atraída pelo magnetismo da terra, dos polos norte e sul, voltando-se sempre para a mesma direção – Norte.

Muitas filosofias se atraem, tem algo em comum, ou se completam. Já por vários anos, há uma tendência no Reino Unido, quando da formação dos grupos espíritas, a maioria buscar o seu espaço para realizar os estudos e tarefas espíritas em dias e horas da semana, alugando sala de reunião buscando local seguro, situado dentro da comunidade dos Quakers. Descobrimos afinidades. Parece sentirmos mesmo uma atração que nos move a buscar esses locais, essas salas, por várias razões, e porque são eles simpatizantes dos ensinos espíritas. A fundamentação da crença Quaker já vem de longa data.

Em 1658 formaram-se os primeiros núcleos dos Quakers ou Friends, como são conhecidos até hoje em todos os continentes.

As maiores concentrações das comunidades dos Quakers estão na Grã-Bretanha, nos Estados Unidos e na África.

Vamos procurar aqui, fazer as colocações, dos muitos pontos em comum entre a Filosofia/Ciência/Ética Espírita e os Quakers.

Chamou-se muito a atenção quando, no ano 2000, fui conhecer, participar de uma das atividades dos Quakers, na Ship Street, bem pertinho da beira-mar, numa manhã de domingo, na cidade de Brighton, onde eu residia.

Fui muito bem recebida por todos da recepção, entrei numa sala magnífica cujas portas duplas estavam bem abertas. Uma sala muito antiga, linda. Sentamos todos, numa grande roda de cadeiras. Todos em silêncio, nada acontecia. Todos se mantinham de olhos fechados, como que em espera, ou em meditação.  Só fui entender depois.

A reunião Quaker é baseada no silêncio, que pode durar de meia hora a uma hora. Neste silêncio, os amigos se sentem mais próximos uns dos outros e muito próximo a Deus.  Não fazem essas reuniões isoladas, fechadas, mas convidam todos os que desejarem participar. Os que comparecem às reuniões, sentem muito mais facilidade de manter em suas mentes e corações, a presença de Deus, do que isolados. Não há recitação de preces repetidas, hinos, rituais, não há um pregador central ou pastor. Não há hierarquia manifestada pelo menos na reunião do Silêncio.

A reunião se inicia quando uma pessoa adentra a sala de reuniões e permanece em silêncio, e as portas se fecham. As outras vão chegando em completo silêncio, sem ruídos, e assim completando os assentos.  De vez em quando, uma ou outra pessoa se levanta e nem se percebe esse movimento, dado o cuidado em não quebrar o silêncio, e começa a narrar algo. Essa pessoa pode estar de olhos abertos ou fechados, e os demais sentados, também ficam a vontade com olhos abertos, outras de olhos fechados. O que se levanta, parece estar falando uma mensagem visualizada, ou inspirada. Pode relatar o que se passa no ambiente a nível espiritual, energético, ou algo que está sentindo por sua inspiração.

Todos são livres para falar, no momento que sentirem que devem fazê-lo. Ou levantar e ler alguma mensagem, ou fazer uma prece. Neste silêncio, relatam que sentem Deus muito próximo de cada um. Não há criticismo, sem avaliações.

Em outro momento, outra pessoa pode levantar-se e agradecer profundamente a Deus, o incansável amor mostrado por Jesus.

Numa reunião Quaker, todos os que estão presentes se despertam para o profundo e poderoso espírito do amor e da verdade, que transcende tudo. O amor une a todos, para haver fortalecimento no bem e na caridade. Se ajudam muito mutuamente, fazem muita caridade material de ajuda aos menos favorecidos.

A reunião termina, quando dois membros mais antigos, se cumprimentam fraternalmente, estendendo-se as mãos e em seguida todos se cumprimentam.

Os Quakers pregam que a vida não tem sentido sem a religação/religião da alma, aquela que une ao Criador. Não existem religião de rituais e ostentação. Aí está um ponto que unimos em acordo com nossos estudos da filosofia/ciência espírita.

São muitos fraternos com todos os seguidores de religiões. São muito fraternos com os espíritas e aceitam nossa filosofia da reencarnação sem problemas, e até mesmo a comunicabilidade com espíritos. No Reino Unido composto por País de Gales, Irlanda do Norte, Escócia, e Inglaterra. Dos 29 centros espíritas temos 17 grupos membros. Dos 29 grupos, 13 utilizam os Quakers, como endereço de reuniões. Dos 17 grupos membros, 9 oferecem ou mantiveram anos seus grupos dentro dos Quakers. No momento inédito da COVID19, todos fechados, e estudos mantidos on-line.

Divaldo Franco, Raul Teixeira, Suely Caldas Schubert, Dra. Marlene Nobre, são alguns dos oradores que estiveram proferindo conferências nas dependências dos Quakers no Reino Unido.

No salão dos Quakers em Brighton, Divaldo Franco fez conferências por 3 vezes, sempre tivemos a sala lotada de brasileiros e britânicos, com a tradução de Anne Christine Sinclair.

Contamos sempre com a estima e simpatia dos responsáveis pelas dependências deste bicentenário e sóbrio edifício. Somente uma das vezes é que Raul Teixeira, e Divaldo Franco estiveram falando no salão da Igreja Anglicana em Brighton.  A curiosidade e que nosso predinho onde situava o grupo de Brighton, foi fundado um ano após o nascimento de Allan Kardec, 1805, e completou 215 anos neste ano de 2020, portanto. Já fez bicentenário de fundação. 

A título de conhecimento, descrevo aqui um acontecido, quando estive em uma das vezes nas reuniões do Silêncio, que acontecia nos domingos pela manhã em Brighton, das 10:30 às 11:30am.  Nesta reunião, tive duas vivências psíquicas. Uma delas me chamou atenção.  Visualizar na tela mental, pessoas sentadas em círculos, orando ao redor de uma construção quadrada central, que parecia ser uma lareira ou um fogão de tijolo de barro muito rústico. O local era o mesmo no qual estávamos reunidos sentados em círculos naquele momento. Eu estava no terceiro círculo de dentro para fora. Ao terminar a reunião, fui conversar com Mr. Page que era como que o zelador do predinho, e também um dos Quakers membro da reunião. Relatei descrevendo a sala que vi na minha visão psíquica, e ele sorriu. Pedi a ele o mais informações que trouxesse a história do início dos Quakers em Brighton, para eu me inteirar mais dos fatos acontecidos séculos antes.  Como historiadora, museóloga, sempre guardo um interesse quase que direto em saber mais sobre locais que exalam história. 

Terry era o nome do caretaker, ou zelador em português.  Subiu na sua casa, pela escada lateral, que dava acesso a parte de cima, sobre o predinho, e a qual minha surpresa. Terry trouxe-me fotocópias mais recentes de documentos antigos. Ao ler os papéis que Terry havia entregue a mim, fiquei pasma. Ali estava a descrição do ambiente como era em 1805, 215 anos atrás, com desenho parecendo litogravura.

Ele, por sua vez, ficou feliz que eu tivesse confiado e feito a minha descrição, apesar de eu não ter manifestado, durante a reunião do Silêncio, o que eu presenciara. Com isso, nossas ligações de confiança e amizade se fortaleceram ainda mais e podemos manter nossas reuniões nas dependências dos Quakers.

Em outros momentos, quando saímos de Brighton, e precisamos alugar sala dos Quakers em outra cidade, tivemos a anuência e carta de referência de Terry, que muito facilitou nossa organização em outro espaço Quaker.

Com isso, fizemos o Congresso de 2007 no maior prédio Quaker de Londres, ali em frente à estação de trem Euston, muito conhecida e central, com trens que partem para todo o Reino Unido.

O Movimento Espírita adquire mais e mais confiança entre todas as religiões e nos sentimos bem felizes e integrados junto aos Quakers, ou Friends, como costumam serem conhecidos.

E assim, unindo esforços e buscas de fraternidade, vamos conseguindo devagarinho e com muita humildade, sem competições, espalhando a boa nova em terras de além-mar.

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Elsa Rossi, escritora e palestrante espírita brasileira radicada em Londres, é presidente da BUSS - British Union of Spiritist Societies.



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