Médiuns improdutivos - Rogério Coelho

O que o Espiritismo menos precisa é de médiuns improdutivos e de mediunidade sem proveito

 “Não vale fenômeno sem proveito”. - Emmanuel[1]

Certa vez [2], saindo de Betânia com Seus discípulos, Jesus teve fome; e, vendo ao longe uma figueira, para ela Se encaminhou, a ver se acharia alguma coisa, mas só achou folhas, visto não ser tempo de figos.  Então, disse Jesus à figueira estéril: “que ninguém coma de ti fruto algum”. No dia seguinte ela estava seca até à raiz...

Entendemos com o Mestre Lionês[3], que “a figueira que secou é o símbolo dos que apenas aparentam propensão para o bem, mas que, em realidade, nada de bom produzem. Simboliza também todos aqueles que tendo meios de ser úteis, não o são. São apenas árvores cobertas de folhas, porém, baldas de frutos... Por isso é que Jesus as condena à esterilidade, porquanto dia virá em que se acharão secas até à raiz.

Os médiuns são os intérpretes dos Espíritos; suprem, nestes últimos, a falta de órgãos materiais pelos quais transmitam suas instruções. Daí vem o serem dotados de faculdades para esse efeito. Nos tempos atuais, de renovação social, cabe-lhes uma missão especialíssima: são árvores destinadas a fornecer alimento espiritual a seus irmãos; multiplicam-se em número, para que abunde o alimento; há-os por toda a parte, em todos os países em todas as classes da sociedade, entre os ricos e os pobres, entre os grandes e os pequenos, a fim de que em nenhum ponto faltem e a fim de ficar demonstrado aos homens que  todos são chamados. Se, porém, eles desviam do objetivo providencial a preciosa faculdade que lhes foi concedida, se a empregam em coisas fúteis ou prejudiciais, se a põem a serviço dos interesses mundanos, se em vez de frutos sazonados dão maus frutos, se se recusam a utilizá-la em benefício dos outros, se nenhum proveito tiram dela para si mesmos, melhorando-se, são quais a figueira estéril. Deus lhes retirará um dom que se tornou inútil neles: a semente que não sabem fazer que frutifique, e consentirá que se tornem presas dos Espíritos maus”.

Dá-se o nome de médiuns improdutivos[4] aos que não chegam a obter mais do que coisas insignificantes, monossílabos, traços ou letras sem conexão.

Explica Allan Kardec[5]:“alguns médiuns escrevem desde o princípio correntemente com facilidade, às vezes mesmo desde a primeira sessão, o que é muito raro. Outros, durante muito tempo, traçam riscos e fazem verdadeiros exercícios caligráficos. Dizem os Espíritos que é para lhes soltar a mão.

Em se prolongando demasiado esses exercícios, ou degenerando na grafia de sinais ridículos, não há duvidar de que se trata de um Espírito que se diverte, porquanto os bons Espíritos nunca fazem nada que seja inútil. Nesse caso, cumpre redobrar de fervor no apelo à assistência destes.   Se, apesar de tudo, nenhuma alteração houver, deve o médium parar, uma vez reconheça que nada de sério obtém. A tentativa pode ser feita todos os dias, mas convém cesse aos primeiros sinais equívocos, a fim de não ser dada satisfação aos Espíritos zombeteiros.

A estas observações, acrescenta um Espírito: há médiuns cuja faculdade não pode produzir senão esses sinais. Quando, ao cabo de alguns meses, nada mais obtém do que coisas insignificantes, ora um sim, ora um não ou letras sem conexão, é inútil continuarem; será gastar papel em pura perda. São médiuns, mas médiuns improdutivos. Demais, as primeiras comunicações obtidas devem considerar-se meros exercícios, tarefa que é confiada a Espíritos secundários. Não se lhes deve dar muita importância, visto que procedem de Espíritos empregados, por assim dizer, como mestres de escrita, para desembaraçarem o médium principiante. Não creiais sejam alguma vez Espíritos elevados os que se aplicam a fazer com o médium esses exercícios preparatórios; acontece, porém, que, se o médium não colima um fim sério, esses Espíritos continuam e acabam por se lhe ligarem. Quase todos os médiuns passaram por esse cadinho, para se desenvolverem; cabe-lhes fazer o que seja preciso para captar a simpatia dos Espíritos verdadeiramente superiores.

O escolho com que topa a maioria dos médiuns principiantes é o de terem de haver-se com Espíritos inferiores e devem dar-se por felizes quando são apenas Espíritos levianos.  Toda atenção precisam pôr em que tais Espíritos não assumam predomínio, porquanto, em acontecendo isso, nem sempre lhes será fácil desembaraçar-se deles. É ponto este de tal modo capital, sobretudo em começo, que, não sendo tomadas as precauções necessárias, podem perder-se os frutos das mais belas faculdades.

A primeira condição é colocar-se o médium, com fé sincera, sob a proteção de Deus e solicitar a assistência do seu Espírito protetor, que é sempre bom, ao passo que os Espíritos familiares, por simpatizarem com as suas boas ou más qualidades, podem ser levianos ou mesmo maus.

A segunda condição é aplicar-se, com meticuloso cuidado, a reconhecer, por todos os indícios que a experiência faculta, de que natureza são os primeiros Espíritos que se comunicam e dos quais manda a prudência sempre se desconfie”.

Esclarece André Luiz[6]: “(...) para conquistar a posição de trabalho a que nos destinamos, de conformidade com os princípios superiores que nos enaltecem o roteiro, é necessário concretizar-lhe a essência em nossa estrada, por intermédio do testemunho de nossa conversão ao amor santificante. Não bastará, portanto, meditar a grandeza de nosso idealismo superior: é preciso substancializar-lhe a excelsitude em nossas manifestações de cada dia.

Indubitavelmente, divinas mensagens descerão do Céu à Terra;  entretanto, para isso é imperioso construir canalização adequada. Jesus espera pela formação de mensageiros humanos capazes de projetar no mundo as maravilhas do Seu Reino, e para atingir esse aprimoramento ideal é imprescindível que o detentor de faculdades psíquicas não se detenha no simples intercâmbio. Ser-lhe-á indispensável a consagração de suas forças a mais altas formas de vida, buscando na educação de si mesmo e no serviço desinteressado a favor do próximo o material de pavimentação de sua própria senda”.

O que o Espiritismo menos precisa é de médiuns improdutivos e de mediunidade sem proveito. E a mediunidade proveitosa conjuga-se – necessariamente – com a humildade e com profícuo e continuado estudo.

Por oportuno, convém aproveitarmos a lição1 transmitida por Emmanuel, através da abendiçoada (e proveitosa) mediunidade de Chico Xavier, na noite de 26.09.1960, na sede da Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba, intitulada:

INSPIRAÇÃO

“Em qualquer consideração sobre a mediunidade, não te esquives à inspiração, campo aberto a todos nós e no qual todos podemos construir para o bem, assimilando o pensamento da Esfera Superior.

Um homem que enxergasse, num vale de cegos, sem diligenciar qualquer auxílio aos irmãos privados da luz, não passaria apenas de uma lente importante, entregue a si mesma; aquele que conversasse numa província de mudos, fugindo de prestar-lhes concurso na reconquista da fala, assemelhar-se-ia tão somente a uma discoteca ambulante; quem se locomovesse à vontade, numa terra de paralíticos, negando-lhes apoio para que readquirissem a herança do movimento, seria para eles uma ave rara e anormal, agindo em forma humana; a pessoa que ouvisse, numa ilha de surdos, desertando da cooperação fraterna para que reaprendessem a escutar, seria apenas uma registradora de sons; a criatura que ensinasse lógica e conduta numa colônia de alienados mentais e não procurasse um meio, ainda que simples, de amparar-lhes o retorno à razão, estaria, entre eles, como arquivo de máximas inassimiláveis.

Não te asseveres, pois, incapaz de servir, porque te falte mais ampla incursão no inabitual. Recurso psíquico, sem função no bem, é igual à inteligência isolada ou ao dinheiro morto: excelentes aglutinantes da vaidade e da sovinice...

De toda ocorrência, observa o préstimo. E, certos de que o pensamento é onda de força viva que nos coloca em sintonia com os múltiplos reinos do Universo, busquemos a inspiração do bem para o trabalho no bem que nos compete, conscientes de que as maravilhas mediúnicas, sem atividade no bem de todos, podem ser admiráveis motivos a preciosas conversações entre os esbanjadores da palavra, mas, no fundo, são sempre o exclusivismo de alguém, sem utilidade para ninguém”.

Bom será estarmos atentos a todas essas questões a fim de que quando formos prestar contas de nossa administração, não venhamos a ouvir de Jesus a terrível sentença: “que ninguém coma de ti fruto algum”.            

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[1] - XAVIER, Francisco  Cândido. Seara dos médiuns. 11.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1998, p. 193-194.

[2] - Mateus, 11:12 a 23.

[3] - KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 125.ed. Rio: FEB, 2006, cap. XIX, itens 9 e 10.

[4] - Kardec, Allan. O Livro dos Médiuns – 2ª parte, cap. XVI, item 192, § 2º

[5] - Idem, ibidem, capítulo XVII. Itens 210 e 211.

[6] - XAVIER, F. Cândido. Nos domínios da mediunidade. 12.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 1983,  cap. 13, p. 121-122.



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