A Boneca

O Natal é alegria, lembrança doce de Jesus. Recordamos nosso querido Hugo Gonçalves, idealizador e criador do Jornal “O Imortal” juntamente com Luiz Picinin. O nosso “Paizinho”, de Cambé, amava o Natal.

O salão do Lar infantil Marília Barbosa, que ele dirigia, como o pai amado das meninas do Lar, ficava sempre engalanado em dezembro. Ele gostava de fazer a felicidade das meninas e de quem ia ao Lar.

A cada ano, a árvore de Natal sobressaía. Verdadeiras artistas, as pessoas que cuidavam e criavam sempre uma novidade para encantar os visitantes e as crianças, na lembrança de Jesus. E o presépio, também, sempre muito lindo. Ele gostava de mostrar a arte do pessoal do Lar Infantil.

Havia uma história que ele adorava contar nessa época do ano e nós, ouvintes, gostávamos muito de ouvir, embora cada um já a soubesse de cor. Tratava-se da história de Joãozinho e de sua irmã Angelina.

Em homenagem a Jesus e ao Natal, recordamos aqui a história de nosso querido Hugo Gonçalves.

Na cidade do Rio de Janeiro havia uma favela muito pobre. Nela morava uma pobre viúva, que lutava muito e com dignidade, lavando roupas para fora. Tinha dois filhos, o Joãozinho, com oito anos de idade e sua irmãzinha Angelina, de cerca de cinco anos de idade.

Angelina era paraplégica, ficava deitada em sua cama. Joãozinho, um menino muito ativo, adorava jogar futebol com os amigos. Tinha uma bolinha de pano. Eles jogavam com ela.

Ele e Angelina se amavam muito. Ele era muito cuidadoso com ela.

Certo dia, ouviu sua mãe conversando com uma vizinha, comentando quanto a situação econômica da família estava difícil.

Naquela época, o trabalho infantil era permitido. A criança podia trabalhar e ganhar seu dinheiro honestamente, não era aliciada por traficantes, pois trabalhava, ocupando seu tempo de modo útil, quando não estava estudando ou brincando.

Joãozinho, com seus oito anos, ouvindo a mãe, preocupou-se e começou a arquitetar um plano, para ajudar a mãe e ganhar dinheiro. Com a anuência dela, começou a descer da favela, carregando uma caixa de engraxate. Depois das aulas ia trabalhar. Engraxava sapatos e religiosamente entregava o que ganhou no dia para a sua mãe.

Um dia, voltando para casa, viu uma bola de futebol na vitrine de uma loja. Encantou-se. Todos os dias passava por ali e olhava a bola. Chegando a casa, após o trabalho, antes de ir jogar bola, com sua bolinha de pano, visitava Angelina. Abraçava-a e lhe falava sobre a linda bola de futebol que tinha visto. Como se encantara com a bola de futebol! Angelina ouvia e sorria.

Assim passaram-se os meses... Um dia, sua mãe chegou e lhe disse: - Joãozinho, preciso muito agradecer a você a ajuda prestada durante esse tempo. A nossa situação melhorou. Apareceram bastantes senhoras, indicadas pelas patroas, que me pediram para lavar e passar roupas. Meu filho, você não precisa mais me dar o dinheiro dos sapatos que você engraxa. Pode guardar para você.

Joãozinho começou a guardar o dinheiro, sonhando com a bola de futebol.

Aproximava-se dezembro e Joãozinho idealizava comprar a bola de futebol para si mesmo, de presente de Natal. Todos os dias falava dessa bola e de seu desejo para Angelina. Contava-lhe os detalhes da bola. Sonhava jogar futebol com uma bola de verdade e não com uma de pano.

Na véspera do Natal, foi todo contente à loja, munido do dinheiro que havia juntado por meses, com o seu trabalho. Entrou na loja. Pobremente vestido, o vendedor chamou sua atenção, para que não importunasse e que saísse. Ele mostrou o dinheiro. “Moço”, disse ele, “tenho dinheiro, vim comprar aquela bola ali.”

Enquanto esperava o vendedor pegar a bola, seus olhos passearam pela loja e pararam numa linda boneca, loura, com olhos azuis. Que linda aquela boneca! Angelina era tão sozinha, deitada lá em casa, ia adorar essa boneca!

Quando o vendedor chegou com a tão desejada bola, ele comentou: - Moço, mudei de ideia. Quero levar a boneca!

Chegou a casa com aquele embrulho de presente e entregou para Angelina: - Abra, Angelina, para você um presente!

Ela abriu curiosa e se deparou com aquela linda boneca. Ria e chorava, ao mesmo tempo, de alegria. Nunca tinha ganhado uma boneca! Encantou-se.

Ela parou subitamente com os arroubos de contentamento. E lembrou-se: - Mas, Joãozinho, e sua tão sonhada bola de futebol? Você deixou de comprar a sua bola para me dar a boneca?

Para não entristecê-la, ele respondeu: - Ah! Sabe o que é, Angelina? Eu fiquei com dó da minha bola de pano! Ela ia ficar tão sozinha num canto, esquecida!

Pegou sua bola de pano e foi brincar com os amigos, feliz da vida com a alegria que proporcionou à irmã.

O nosso “paizinho” contava essa história nos natais. Já a conhecíamos, mas ele sempre nos emocionava com ela. O que faz um verdadeiro amor, pensando não em si, mas no ser amado, um exemplo de altruísmo de uma criança.

A vida não era fácil, mas quando existe o amor tudo fica mais belo. O amor é a nossa redenção, espíritos imortais, carregados das mazelas de nossos passados.

Jesus e seus ensinamentos são o bálsamo que nos enxuga as lágrimas e o Espiritismo é o conhecimento libertador.

Que neste Natal, tenhamos muita paz, na certeza de que não há presente maior que o amor.

Lembremos Jesus!



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